“Qualidade da água no Território de Manguinhos atende aos padrões de potabilidade”

por
Graça Portela
,
03/12/2014

Coordenador do Projeto QualiÁgua em Manguinhos- “Qualidade da água consumida e ocorrência de doenças de veiculação hídrica no território de Manguinhos (RJ)”, Paulo Barrocas, explica o projeto desenvolvido no Território de Manguinhos e fala da importância em compartilhar os resultados com a população.

Por que analisar a qualidade da água no Território de Manguinhos?

Tudo começou a partir de uma queixa da população em relação à qualidade da água consumida em Manguinhos, feita durante a I Conferência Local de Manguinhos, realizada em 2011. De forma a dar resposta à população e produzir dados científicos sobre esta questão, o Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA) da ENSP iniciou uma parceria com TEIAS-Escola Manguinhos, analisando amostras de água para consumo de acordo com demandas do TEIAS.

Inicialmente, coletamos amostras em escolas localizadas no território. Ao longo deste trabalho inicial surgiu um problema de hepatite em uma creche do Território, o que nos fez buscar uma colaboração com dois laboratórios do IOC, Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental e Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia.

A partir dessas experiências desenvolvidas e da oportunidade para o desenvolvimento de pesquisas em Vigilância em Saúde Ambiental, financiadas por edital do DSAST/SVS-MS no fim de 2012, formalizamos um projeto de pesquisa, no qual incluímos não só os dois laboratórios do IOC, com quem já vínhamos trabalhando, mas também o Núcleo de Geoprocessamento do Laboratório de Informações em Saúde, do Icict. Assim, temos três unidades da Fiocruz trabalhando juntas neste projeto. No final de 2013, passamos a contar também com o apoio da Vice-Direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (VDPDT)/ENSP e do Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública (PDTSP), da Vice-presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência (VPPLR)/Fiocruz, passando a integrar a Rede Saúde Manguinhos.

Quanto tempo durou o Projeto?

A cooperação inicial entre o DSSA e o Teias Escola Manguinhos começou no final de 2011, mas o projeto de pesquisa, com financiamento do DSAST/SVS-MS, iniciou apenas no fim de 2012. Atualmente, concluímos as análises das amostras e entramos na fase de retorno dos resultados aos participantes da pesquisa.

Quantas residências abrangeu o Projeto?

Ao longo do estudo, coletamos e analisamos quase 500 amostras de 12 unidades escolares, 3 unidades de saúde e 235 domicílios do território de Manguinhos

O que cada parceiro – ENSP / Icict / IOC – fez?

O DSSA/ENSP fez as análises dos parâmetros de potabilidade (físico-químicos e bacteriológicos); os laboratórios do IOC buscaram os principais vírus entéricos causadores de gastroenterites e diarreias, e ainda o vírus da hepatite A.

Já o Icict ficou responsável por consolidar os dados gerados em um banco de dados e produzir mapas, georreferenciando no território, as informações de qualidade de água. Ainda buscamos dados da ocorrência de agravos relacionados ao consumo de água sem qualidade e da infraestrutura de saneamento existente no território.

Vocês podem adiantar os resultados?

Ficamos felizes em constatar que, de maneira geral, a qualidade da água analisada ao longo da pesquisa atendeu aos padrões de potabilidade da atual legislação brasileira (portaria MS/nº 2914/2011).

Foram observados alguns problemas pontuais ou em parâmetros específicos, principalmente associados à reservação intradomicliar (o armazenamento dentro das residências) inadequada da água fornecida pela rede de abastecimento. Moradores de diferentes áreas do território relataram problemas ocasionais no abastecimento e o aspecto ruim da água após esses eventos. Entretanto, não tivemos a oportunidade de coletar amostras nessas ocasiões que pudessem confirmar os relatos.

Qual a importância de se devolver à comunidade os resultados obtidos?

Desde o início do projeto, temos como objetivo o retorno dos resultados aos participantes da pesquisa e à comunidade de Manguinhos, não só pelo nosso compromisso ético com a pesquisa, mas porque acreditamos que apenas com participação e o envolvimento da comunidade, temos a chance de transformar situações.

Entendemos que é fundamental que a comunidade tenha mais acesso ao conhecimento e as informações produzidas por pesquisas sobre Manguinhos, inclusive para desmitificar certas questões. Esperamos assim contribuir para que as pessoas que vivem e trabalham em Manguinhos tenham mais subsídios para reivindicar seus direitos e participar das decisões políticas que dizem respeito as suas vidas.

 

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