Credibilidade das informações na internet: grande desafio de Saúde Pública

por
Valéria Vasconcelos Padrão e Nathállia Gameiro (Fiocruz Brasília)
,
13/11/2015

A cada 60 segundos trafegam pela internet 138,8 milhões de e-mails, são realizadas 2,66 milhões de buscas no Google, postados 433 mil twetts e vistos 5 milhões de vídeos no Youtube. Esta explosão de informações originadas nas mais diversas fontes foi apontada como o grande desafio para a Saúde Pública durante os debates no Seminário Relações da Saúde Pública com Imprensa – Casos Ebola, Dengue, Chikungunya e Zika, realizado na Fiocruz Brasília, que reuniu jornalistas, cientistas e pesquisadores de diversas instituições no último dia 05, quarta-feira.

Ebola foi o tema da mesa que reuniu Angela Pimenta, do Observatório da Imprensa/Projor, Natália Lambert, do Jornal Correio Braziliense, Camila Rabelo, do Ministério da Saúde, Valéria Mendonça, do Núcleo de Estudo Saúde Pública da Universidade de Brasília e José Cerbino, vice-diretor do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

Angela Pimenta falou sobre a revolução digital e seus impactos nos meios de comunicação e da necessidade deles reinventarem-se. Ao analisar a atuação das autoridades sanitárias disse  que “o fato do suspeito zero, o guineano Souleymane Bah, ter sido diagnosticado como negativo, não pode ser interpretado como indício de que houve exagero”.  As autoridades sanitárias não se esconderam, explicaram e tranquilizaram, os protocolos de segurança foram estritamente obedecidos e a mídia comportou-se com razoável cuidado.

Natalia Lambert, subeditoria de Política e Brasil do Jornal Correio Braziliense, falou da concorrência com as redes sociais, com outros veículos e da necessidade de passar a informação correta o mais rápido possível. Destacou o impacto da perda de repórteres especializados em saúde, ressaltando a importância de estabelecer parcerias com autoridades sanitárias e profissionais de saúde para produzir notícias fidedignas. “A imprensa tem um papel importante de serviço, de informar sem provocar alardes”, disse ela.

Valéria Mendonça, coordenadora do Nesp/UnB, discorreu sobre a infodemia - informação em excesso que se encarrega em manter as pessoas aterrorizadas. Lembrando que o que difere o veneno do remédio é a dose, disse que não somos obrigados a responder a tudo imediatamente que podemos parar, pensar, refletir, mas queremos que a mídia responda a tudo de imediato.  Destacou que informação não é comunicação e que “o sujeito da comunicação não é o meio, mas a interelação. Importante não é o que diz o meio, mas o que fazem as pessoas com o que diz o meio, com o que elas veem, ouvem e leem.”

José Cerbino, vice-diretor do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fiocruz, onde ficou internado o paciente com suspeita de caso de Ebola falou que o jornalista têm três funções durante as emergências de saúde pública:  divulgação de informações precisas para o público, profissionais de saúde e gestores;  atuar como intermediário entre o público, autoridades e especialistas,  e monitorar o desempenho das instituições responsáveis pela resposta às emergências.

Para Camila Rabelo, da Comunicação do Ministério da Saúde, agir com rapidez e transparência para não perder a credibilidade é a premissa que norteia as ações do ministério em situações de crise. Esclarecer rapidamente os boatos que circularam nas redes sociais – Facebook, Twitter e WhatsApp - foi o grande desafio enfrentado no caso Ebola.  E o monitoramento constante das informações veiculadas foi uma das ações de comunicação estabelecidas no plano de contingência desenhado pelo ministério em articulação com as secretarias de saúde após a OMS – Organização Mundial de Saúde declarar risco internacional no caso Ebola. 

Dengue, Chikungunya e Zika

A jornalista Lígia Formenti, do Estado de S. Paulo destacou a mudança na dinâmica da cobertura da imprensa nos casos de dengue no Brasil – antes era observado o ciclo da doença, os picos epidêmicos e agora o tema  tem espaço o ano todo. “Será que é o reflexo do próprio comportamento da doença? A dengue ao contrário do que nós vimos em outros anos não está dando trégua. Tem a redução de casos, mas continua”, explicou a jornalista. Ela destacou a explosão de casos em São Paulo, resultando em um grande número de mortes. Formenti acredita que como a doença atingiu a maior cidade do Brasil, local onde fica a sede de dois jornais de peso do país, houve mais espaço nos veículos para se falar mais sobre o assunto durante todo o ano. Já com relação à chikungunya e zika, a jornalista acredita que não teve grande cobertura por ter uma frequência baixa de mortalidade.

Comunicar a complexidade do enfrentamento à dengue, que envolve a população e as esferas estadual, federal e municipal do governo foi posto como um dos grandes desafios enfrentados pelo Ministério da Saúde. Camila Rabelo, coordenadora de redação do MS, observou  que “o objetivo é comunicar de forma clara e não fazer alarde. Informar e provocar mudanças de hábitos da população e nos estados e municípios”.

O publicitário Bruno Botafogo, ex-assessor de publicidade do Ministério da Saúde, aponta que com a internet, as informações correm de maneira extremamente rápida e todos são difusores de informações. Bruno ressaltou que é preciso pensar na comunicação integrada para acompanhar esta velocidade, principalmente quando se trata de saúde, aspecto classificado pelos brasileiros como o mais importante. Para ele, “a informação é saúde e protege”.

Mais 1,7 milhão de pessoas contaminadas em mais de 40 países. A chikungunya causa dores articulares intensas decorrentes das inflamações e impossibilita, por longos meses, o exercício de atividades corriqueiras como pentear o cabelo e até mesmo sair da cama. No Brasil, foram confirmados casos autóctones (contraídos no local) em Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Sergipe.

Rivaldo Venâncio, diretor da Fiocruz do Mato Grosso do Sul, disse não  ser possível saber com certeza quantos casos de chikungunya e zika ocorreram este ano no Brasil, já que muitas pessoas, ao manifestarem sintomas da doença, não procuram ajuda médica. De acordo com ele, é possível perceber que nem sempre a zika se apresenta de maneira benigna e pode trazer complicações, diferente de como tem sido divulgado. “O desconhecimento das doenças por parte da população e dos profissionais de saúde e a dificuldade para realização do diagnóstico laboratorial são desafios que enfrentamos ainda. É preciso dar a devida importância”, ressaltou. 

Gerson Penna, diretor da Fiocruz Brasília e mediador da mesa, afirmou que o enfrentamento das doenças é um desafio para a humanidade e para a comunidade científica tecnológica, não apenas para o governo. “A tecnologia nos proporciona uma maior velocidade na propagação das informações. O que conseguimos prevenir com essa velocidade? Estamos preparados?”, questionou Penna.

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