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O cineasta José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite e Ônibus 174, participou de um debate sobre o seu mais recente vídeo, o documentário Garapa, na aula inaugural do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS). O debate, que também contou com a participação do diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Francisco Menezes, e do professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Antônio Fausto Neto, abordou a fome após a exibição do filme, que mostra a realidade de três famílias cearenses na busca por estratégias de sobrevivência diante das condições mais adversas possíveis. O evento foi realizado no Salão de Leitura da Biblioteca de Ciências Biomédicas, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) no dia 27 de agosto.
A importância da interface entre produção científica e sociedade norteou a fala dos debatedores. A moderadora do debate, vice-coordenadora do PPGICS e doutora em Saúde Pública pela Ensp, Dália Romero, destacou o número de pesquisas da base de dados Scielo dedicadas à obesidade e à fome, ao fazer uma comparação entre essas duas temáticas. “Enquanto os artigos sobre a obesidade passam dos 900, os relacionados à fome não chegam a 100”, salientou a pesquisadora. Dália ainda enfatizou a importância da realização de pesquisas sobre a fome, uma vez que esses estudos não são publicados nas revistas científicas internacionais devido à ausência deste tema nos países desenvolvidos, o que ela denominou “garapa acadêmica”.
Ao falar sobre o vídeo, José Padilha destacou que um dos objetivos do documentário é evidenciar a capacidade de mobilização da dramaturgia, que aproxima do público problemas ignorados no cotidiano. “A ideia de fazer um filme observacional era tornar algumas pessoas que passam fome conhecidas do grande público, que terá contato com o dia-a-dia dos personagens”, explica Padilha. Ainda de acordo com o cineasta, a fome usurpa dessas pessoas muito mais do que comida, visto que elas acordam apenas pensando no que comer, sem nenhuma perspectiva. O diretor aproveitou o momento para fazer um convite aos alunos. “Quem tiver interesse em fazer um documentário sobre o serviço nos hospitais públicos pode contar comigo”, provocou.
Com relação aos desafios da Pós-Graduação do Icict, Fausto Neto afirmou que eles se traduzem na montagem de uma matriz acadêmica, que acione a interface do curso com a sociedade. “A sala de aula deve se transformar em um espaço de debates e traduzir o discurso acadêmico para a sociedade”, salientou o professor. Ao falar sobre Garapa, Fausto garantiu que o documentário transmite a possibilidade de intervenção para os que hoje começam no ofício da pesquisa.
Já Francisco Menezes elogiou a maneira como o Brasil tem tratado o problema da fome, com programas como o Fome Zero. Entretanto, o diretor do Ibase alertou para o grande número de pessoas que ainda não possuem documentação (identidade e certidão de nascimento) e moram em lugares de difícil acesso, como uma das famílias retratadas em Garapa. Ainda de acordo com Menezes, a intenção do filme é provocar um debate acerca dos campos da comunicação e da saúde.
O Vice-Presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Carlos Gadelha, o diretor do Icict, Umberto Trigueiros, e a coordenadora do PPGICS, Inesita Araújo, compuseram a mesa de abertura do evento.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 920 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo. No Brasil, segundo o Ibase, 11 milhões de pessoas estão vulneráveis a fome.
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