Memória na tela: seminário sobre preservação do audiovisual da saúde traz especialistas ao Icict

por
André Bezerra
,
16/11/2015

A importância do audiovisual como documento histórico para a pesquisa científica e memória da saúde no Brasil foi saudada na Fiocruz durante o I Seminário Patrimônio Audiovisual em Saúde, promovido pelo Centro de Estudos do Icict na sexta-feira, 13 de novembro, no Salão de Leitura da Biblioteca de Manguinhos. O evento, realizado em parceria com a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz e a Casa de Oswaldo Cruz (COC), reuniu especialistas de preservação, memória, comunicação e saúde, dentre outras áreas, em torno da salvaguarda de materiais audiovisuais e seus desafios.

Ao dar início ao evento, o diretor do Icict, Umberto Trigueiros, lembrou o pioneirismo da instituição no campo do audiovisual associado ao trabalho científico. “No início do século passado, Oswaldo Cruz teve a idéia genial de levar um filme à Exposição Internacional de Higiene (Em Dresden, na Alemanha, no ano de 1911). Esse trabalho mostrou ao mundo como se combateu a febre amarela no Rio de Janeiro naquele período. Foi algo extremamente moderno e inusitado, e deu início a uma política de registro, que servia não só para mostrar a imagem do passado, mas também como aquela geração pensava o futuro”, apontou.

Dedicada a preservar e valorizar o patrimônio cultural da saúde, a Casa de Oswaldo Cruz participou da atividade. “A Fiocruz produziu documentos fílmicos ao longo de sua história de forma significativa, nas últimas décadas sobretudo, além de captar acervos, sejam pessoais ou de instituições, e, portanto, isso é um desafio para nós. A preservação está no centro da nossa missão, como uma instituição relevante na área da saúde no Brasil”, destacou Paulo Elian, diretor da COC/Fiocruz, que também frisou o papel da difusão, para além da salvaguarda do acervo.

Audiovisual: patrimônio para memória e pesquisa

A sessão do Centro de Estudos reuniu três pesquisadores da Fiocruz para debater o tema ‘Salvaguardar audiovisuais em saúde: um desafio para a preservação e para a pesquisa em saúde’. A primeira a se apresentar foi Dilene Raimundo do Nascimento, médica e pesquisadora da memória em saúde na COC/Fiocruz.

A palestrante demonstrou como parte de sua pesquisa se desenvolveu a partir da consulta em materiais audiovisuais. “Tenho utilizado o audiovisual como recurso na pesquisa histórica sobre doenças”, explicou. Ela exibiu o filme “A Grande Batalha”, de 1980, que retrata a campanha nacional de vacinação contra a paralisia infantil no estado de Mato Grosso do Sul. É uma crônica em preto e branco, trilha instrumental e narração em off mostrando a mobilização da sociedade nessa atividade de prevenção.

Dilene Raimundo do Nascimento, pesquisadora da COC/Fiocruz. (Fotos: Raquel Portugal/Multimeios Fiocruz).

Do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/Fiocruz Pernambuco, Silvia Santos trouxe um pouco da contribuição do estado na produção audiovisual em saúde, mas também expôs a dificuldade de se encontrar materiais preservados e disponíveis, como o filme ‘Tocaia Sinistra’, objeto de sua pesquisa. Ao se deparar com um relato histórico nas memórias da Fiocruz Pernambuco, a pesquisadora decidiu encontrar um filme produzido para retratar a ocorrência de filariose naquele período.

Segundo o relato de Diva Cardi, constante no livro, a produção do filme foi um grande esforço e um sonho dos profissionais da época para o trabalho de prevenção e promoção da saúde. "Fiquei interessada e comecei a buscar mais informações, então fui buscar o cineasta amador Armando La Roche", relata Silvia. Em sua busca, a pesquisadora se deparou com falta de referências e informações contextuais. “Nos registros sobre o documentário pernambucano, encontrei informações sobre outros filmes do autor, mas este não constava”, informou.  

Depois de alguns anos de pesquisa, a fita foi finalmente encontrada, mas em posse de outra pessoa, que veio a falecer e o material voltou a ficar indisponível. “Caso esse filme tenha sido mesmo jogado no lixo só teremos sobre essa obra um breve comentário registrado. Por isso, também é importante preservar não só os filmes, mas as informações sobre essas obras e os contextos”, avalia Silvia Santos.

O último palestrante foi Eduardo Thielen, da VideoSaúde, que exibiu trechos de dois filmes: ‘Cinematógrafo brasileiro em Dresden’ e ‘Massacre de Manguinhos’. “Essas obras falam por si só. Escolhi dois documentários que focam momentos diferentes da história dessa instituição e mostram a riqueza dos nossos materiais”, comentou. “Foi na gestão Arouca que surgiram os núcleos de preservação iconográfica na COC e audiovisual no Icict”, relembrou o pesquisador, citando a formação dos acervos da Fiocruz e a criação do selo VideoSaúde.

27 de outubro: valorização do patrimônio audiovisual

O mediador do encontro, o pesquisador e conservador-chefe da da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Hernani Heffner, salientou o motivo para a realização do encontro, que foi o Dia Mundial da Preservação Audiovisual, celebrado em 27 de outubro e instituído pela Unesco. “É uma data que fala da preservação do passado, do acúmulo de passados, e constitui uma valorização de toda e qualquer expressão audiovisual, sobretudo aquelas mais antigas e que estavam até então à margem da tradição dominante nas políticas de preservação, mas que podem ser tão significativas quanto outras obras audiovisuais, como a produção audiovisual no campo da saúde”, avaliou.

Sobre os desafios das instituições que preservam e difundem acervos audiovisuais no contexto das tecnologias digitais, Heffner avalia que um dos caminhos para superar desafios é a criação de parcerias e o estabelecimento de uma rede entre as cinematecas e acervos, como a Fiocruz, que podem operar trocas de tecnologias e infra-estrutura como servidores e bancos de dados.

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I Seminário Patrimônio Audiovisual em Saúde na Fiocruz
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Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

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