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Mais um trabalho que aborda a questão das mulheres no uso do crack foi publicado. Desta vez, foi um artigo de Neilane Bertoni, do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict), intitulado “Exploring sex differences in drug use, health and service use characteristics among young urban crack users in Brazil”, que está disponível desde o dia 28 de agosto no International Journal for Equity in Health, periódico da prestigiosa Johns Hopkins University, dos Estados Unidos.
O artigo apresenta o detalhamento da pesquisa que foi feita em Salvador (Bahia) e no Rio de Janeiro (RJ), publicado em setembro/2013, pelo International Journal of Drug Policy. Chama atenção no artigo de Neilane Bertoni a informação de que há diferenças marcantes entre homens e mulheres no uso do crack. Por exemplo, enquanto na população brasileira o uso do tabaco está em queda, dentre os usuários de crack os números são elevados, sendo que dentre as mulheres 88,6% fumam contra 78,2% dos homens pesquisados.
No Rio e em Salvador, conforme mostra o artigo de Bertoni, em relação à prática sexual, 62,9% das usuárias de crack não utilizam camisinha, contra 60,5% dos homens. A troca de sexo por crack é praticada por 28,6% das mulheres; já entre os homens é de 4%. Embora a maioria das mulheres tenha feito testes para HIV e hepatites C e B, 18,9% apresentaram sorologia positiva contra 4,1% dos homens. Para hepatite B e C, respectivamente para mulheres, os resultados foram 28,1% e 90,6%. Já para os homens, os resultados foram 13,9% e 81,2%.
As diferenças por gênero chamam atenção, pois demonstram a acentuada vulnerabilidade da mulher nas questões que envolvem a adicção ao crack, que podem interferir de modo relevante em sua saúde sexual e reprodutiva, além de apresentar consequências adversas em relação à morbimortalidade materno-fetal e infantil.
Neilane Bertoni já havia feito uma análise sobre a situação das mulheres, com os dados da Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack, em entrevista ao site do Icict. Segundo ela, “as mulheres fazem uso mais intenso da droga em relação aos homens, a média foi de seis anos de uso para as mulheres e sete anos para os homens. O consumo médio por dia para as mulheres é de 21 pedras de crack e para os homens é de 13 pedras.” A pesquisadora também ressalta que “quase metade delas reportaram já terem sofrido violência sexual pelo menos uma vez na vida, o que é um quadro bastante chocante. Dentro dessa população de excluídos, essas mulheres seriam as excluídas dentre os excluídos. Elas são ainda mais vulneráveis.”
O artigo publicado no International Journal for Equity in Health teve também como co-autores Chantal Burnett e Benedkikt Fischer (Centre for Applied Research in Mental Health and Addiction, Faculty of Health Sciences), Simon Fraser (University/Canada and Social & Epidemiological Research, Centre for Addiction and Mental Health/Canada), Marcelo Santos Cruz e Erotildes Leal (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ), Tarcísio Andrade (Universidade Federal da Bahia – UFBA) e Francisco Inácio Bastos (Lis/Icict/Fiocruz).
Leia, ao lado, o artigo “Exploring sex differences in drug use, health and service use characteristics among young urban crack users in Brazil”.
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