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Em entrevista ao site do Icict, o coordenador do Laboratório de Informação em Saúde (Lis)/Icict, Christovam Barcellos fala sobre os resultados de trabalho que desenvolveu em parceria com a antropóloga Alba Zaluar e equipe do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Uerj. Ele mostra como o trabalho de georreferenciamento apontou alguns resultados surpreendentes com o cruzamento de dados do Ministério da Saúde sobre mortalidade e os números da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro sobre homicídios na cidade. Um deles joga por terra o mito de que a favela é um local perigoso. Ao contrário do que se imagina, o perigo está justamente no entorno das favelas, onde o índice de homicídios é assustadoramente alto devido ao confronto entre os grupos. Os resultados integram a pesquisa “Saúde Urbana – Homicídios no entorno de favelas do Rio”.
A partir desse estudo, a equipe do IESP montou o “Seminário sobre o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora ou como transformá-la em Polícia de Proximidade”, realizado no dia 4/12, de 9h às 17h, no IESP, onde serão debatidos os novos rumos do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora – as UPPs, que já somam 36 unidades na capital e que, até 2014, serão 40, segundo informações da Secretaria Estadual de Segurança. O evento que terá quatro mesas redondas (“O passado nos condena”, “O que é Polícia de Proximidade”, “Funções do comandante da UPP na favela” e “Outras instituições”, contará com a presença de Alba Zaluar, que também coordena o Seminário, Christovam Barcellos, Frederico Caldas, comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, Jacqueline Muniz, do Iuperj, Flávio Mazzaro, presidente da Asosciação de Moradores do Fallet, dentre outros.
O IESP fica na Rua da Matriz, 82, em Botafogo. Informações pelo telefone 2266-8300.
No Rio de janeiro existem muitas áreas de favela dentro de bairros, alguns deles de alta renda e não podemos analisar a questão da violência usando somente divisões territoriais administrativas. Precisamos caracterizar com maior precisão onde e como as pessoas estão morrendo.
Nós partimos de uma hipótese muito em voga no Rio de Janeiro de que as favelas são áreas de risco e para testar esta hipótese, teríamos que separar os habitantes das favelas, do seu entorno e outras áreas mais distantes. Isso só foi possível por meio de um trabalho árduo de busca de cada endereço da vítima de homicídio no município.
Esse tipo de técnica tem sido empregada, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, os dados mostram que existem áreas muito perigosas dentro das cidades e isso é explicado não só pelas desigualdades sociais, mas pelos hábitos, valores e redes sociais locais, que podem incentivar ou reduzir a violência.
A equipe do Núcleo de Geoprocessamento do Laboratório de Informação em Saúde (Lis)/Icict georreferenciou cerca de 4.600 endereços de pessoas que morreram assassinadas entre 2006 e 2009. Uma equipe do IESP identificou os domínios armados de todas as favelas do Rio de Janeiro, grupos de tráfico, milícias, além das UPPs e neutros. O que fizemos com esses dados foi relacionar as mortes com os domínios por meio de mapas.
Observamos que houve um avanço das milícias na zona oeste da cidade, tendo dominado Santa Cruz, Campo Grande, grande parte de Jacarepaguá, chegando próximo a Acari e Fazenda Botafogo. De outra parte, as UPPs têm se expandido da zona sul em direção à zona norte e subúrbios da Leopoldina. Atualmente, portanto, uma ampla área ao longo da Avenida Brasil tem se tornado um campo de disputas entre grupos do tráfico que já estavam instalados na região e estas duas forças – UPPs e mílicias.
Acreditava-se que as favelas teriam taxas de homicídio muito mais elevadas que o resto da cidade, chamada de 'asfalto'. Na verdade, os riscos de ser morto não são muito diferentes dentro das favelas. Existe sim um risco muito alto de morrer assassinado para quem mora no entorno mais próximo das favelas, principalmente aquelas situadas nas zonas de conflito entre grupos armados (milícias e entre os diversos comandos do tráfico).
A zona oeste não é uma área de risco do homicídio elevado, apesar de ser a área mais pobre da cidade; o que permite pensar que a violência não é uma consequência direta da pobreza, mas sim de um conjunto de fatores sociais, culturais e geopolíticos que atua sobre algumas áreas. As favelas da zona sul do Rio, por exemplo, têm taxas de homicídio muito menores que aquelas situadas nos subúrbios, onde se concentram pontos de interesse para o tráfico e as milícias.
Vamos divulgar esses resultados e discutir as políticas de segurança nas favelas do Rio de Janeiro. É preciso desfazer alguns mitos para podermos avançar nesta discussão. A avaliação dos homicídios é somente uma parte da questão da violência. Existe ainda o problema dos desaparecimentos, do desrespeito aos direitos humanos nas favelas, entre outros. Mas podemos perceber, por meio de outros dados, que as condições nas favelas estão melhorando com as UPPs, que os riscos baixaram e, principalmente, se retirou grande parte das armas de circulação, o que ajuda a reduzir os homicídios.
Acredito que sim. Podemos contribuir para o monitoramento dos homicídios, produzindo informações sobre a situação de cada zona da cidade, permitindo ajustes nas políticas de segurança, análise de tendências e outras formas de comunicação com a sociedade. As UPPs já são uma experiência positiva, que deve ser aperfeiçoada. Para isso, os resultados devem ser divulgados e debatidos com a sociedade. Este é o espírito do seminário.
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