ICICT | Fiocruz - Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

“O povo das aldeias que me vêem são todos meus parentes e nós todos preservamos nossa cultura. Aqui, produzimos alimentos tradicionais, como pão, bebida e farinha de milho, mandioca, batata. Ainda estamos comendo esses alimentos. Devo preservar isso tudo, pois sou cacique. Quero continuar a levar minha família, como era antigamente”
Cacique Vera Mirim. Aldeia Sapukai, Angra dos Reis (RJ).

O depoimento do indígena ilustra o vídeo “Preservar é Resistir”, que abriu o Seminário ‘Icict e o OTSS: Integrando esforços por territórios saudáveis e sustentáveis’, na terça-feira, 23 de fevereiro, no auditório da Unidade. O encontro reuniu profissionais do Icict e outras unidades da Fiocruz em torno do projeto Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, que atua na interseção entre pesquisa e ação sobre sustentabilidade e saúde na região litorânea entre o sul do estado fluminense e a divisa com São Paulo.

O pesquisador Edmundo Gallo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), é coordenador-geral do Observatório e foi o convidado para esta sessão do Centro de Estudos do Icict, que teve como um dos objetivos apresentar o projeto para a criação de parcerias nas áreas de informação e comunicação em saúde voltadas para o território da Bocaina e questões relativas à saúde e meio ambiente. “Além de belíssimo do ponto de vista natural e cultural, é também um território bastante ameaçado pelos vetores do capital”, apontou Gallo.

Com a prerrogativa de preservar e promover os saberes tradicionais a partir de uma perspectiva tecnopolítica, o observatório vem atuando há mais de sete anos em parceria com o Fórum das Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), entidade de mobilização dos povos indígenas, quilombolas e caiçaras do território da Bocaina. A Fiocruz, parceira desde 2009, contribui na formulação de estratégias regionais visando a garantia dos direitos das comunidades, que são protagonistas de todo o processo, desde à manifestação de demandas, validação, execução e avaliação das ações empreendidas.

“O foco principal de atuação é pensar como implementar soluções para a promoção do desenvolvimento sustentável e da saúde a partir das necessidades do território”, afirmou Edmundo Gallo. Segundo o coordenador, são mais de 50 comunidades tradicionais participantes do fórum, cuja principal demanda é se manter no território diante de ameaças como a especulação imobiliária. A preservação do meio ambiente e dos saberes tradicionais é  estratégica para o empoderamento das populações locais e guiam ações em diferentes áreas como a agroecologia, o turismo de base comunitária e o saneamento ecológico, dentre outras.

Uma das soluções apresentadas foi a de saneamento ecológico realizada na Escola Municipal da Comunidade Caiçara da Praia do Sono, em Parati. Nesse primeiro modelo, uma caixa de alvenaria selada e localizada no subsolo realiza a decomposição da matéria orgânica e incorpora a biomassa à espécies como bananeira, sem produzir contaminação ao meio ambiente. Melhorias do modelo e sua aplicação em outras comunidades vem sendo estudadas pelo observatório.

Ao fundo, Edmundo Gallo, coordenador do OTSS e pesquisador da Ensp/Fiocruz. (Foto: Raquel Portugal/Multimeios Fiocruz)

Além da Fiocruz, que contribui com a iniciativa por meio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), o OTSS conta com financiamento da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Após sua apresentação, Gallo apresentou o relatório de atividades do projeto, um inovador “Baralho de Resultados”, criado para comunicar de forma lúdica os resultados alcançados. Bem recebido pelo público e profissionais do Icict, o projeto recebeu elogios e suscitou questões no campo da comunicação e informação.

“O Observatório abraça questões muito caras a nossa área de atuação, que é promover o direito à saúde”, apontou Umberto Trigueiros. Diretor do Icict. A servidora do instituto Indira Alves Franca passa a integrar a equipe do OTSS em Paraty, com a tarefa de fazer uma ponte com outras iniciativas.

Edmundo Gallo descreveu uma iniciativa em andamento no campo da comunicação, que envolve a produção de um Jornal Mural atualizado e divulgado por meio de mensagens via celular. “Do ponto de vista de processos, podemos desenvolver soluções técnicas juntos”, sugeriu o pesquisador. Levantamentos cartográficos do Laboratório de Informação em Saúde, bem como sistemas de notificações de intoxicações do Sinitox foram apontados como possíveis interfaces entre o OTSS e o Icict, além da produção de jogos eletrônicos em saúde. “O foco é a na determinação social da saúde e promoção da saúde”, complementou.