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Coordenadora do Sistema há 14 anos, Rosany Bochner define a trajetória do Sinitox como “35 anos de resistência”. Responsável por coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país, o Sinitox lançou em março os dados referentes a 2013, com a adesão de apenas de 42% dos centros.
O baixo número se deve a questões políticas e a dificuldade de articulação com os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats). Não há obrigatoriedade na disponibilização dos dados e faltam recursos para estimular o envio dos registros para o Sistema. A última vez que a estatística contou 100% de participação foi em 1998. “As causas são diversas desde a falta de pessoal para realizar a consolidação dos dados até questões políticas. Alguns dizem apenas que têm ordens para não mandar”, afirma. A preocupação da pesquisadora é que estes dados não são disponibilizados nem em outros meios. “O problema é que esse dado não vai para lugar nenhum. Está perdido”, critica Rosany.
Há outros entraves para o registro de intoxicações no País. Como o principal atendimento realizado pelos Ciats é telefônico, algumas empresas contratam centros privados para realizar o atendimento em caso de intoxicação. Assim, caso a vítima não procure posteriormente alguma unidade pública de saúde, estes casos não são contabilizados.
“A lógica de notificação dos centros é completamente da do Sinan [Sistema Informação de Agravos de Notificação]. Os centros são como se fosse um sentinela em termos de intoxicação”. A identidade diferenciada possibilita que, em muitos agravos, a notificação do Sinitox seja bem superior à do Sinan, mesmo sem a participação de parte dos centros. “Informação é poder. Para quem interessa que o Sistema esteja sucateado? Não é para a sociedade”.
“Essa revistinha me faz aprender algumas coisas, principalmente com as plantas tóxicas, e o melhor aprendi brincando!”, escreveu em uma folha pautada Lucas Tedesco, aluno do Colégio Dom Pedro II. O depoimento faz parte de um dos momentos mais marcantes dos 35 anos de trajetória do Sinitox, segundo a coordenadora do Sistema Rosany Bochner: a parceria realizada com estudantes de escola pública para a confecção da Revista “Brincando e Aprendendo”.
A parceria começou após as pesquisadoras do Sinitox irem palestrar nas escolas sobre os temas relativos às intoxicações registradas no Sistema: agrotóxicos, plantas tóxicas, animais peçonhentos e medicamentos, principalmente. As crianças gostaram tanto que a professora resolveu ajudá-las a elaborar cartinhas para o Sinitox. “Vieram muitas cartinhas para mim. Eu me sentia a própria Xuxa do Icict. Foi extremamente gratificante”, conta Rosany.
Muitas delas continham sugestões para a Revista “Brincando e Aprendendo”, criada anos antes por Bochner, visando ajudar difundir informação sobre situações perigosas para o público infantil, especialmente as crianças que moram no entorno da Fiocruz e vivem em situação de vulnerabilidade social. As sugestões eram tão pertinentes que o Sinitox decidiu propor a parceria.
Não só deu certo, como a caixa de correio do Icict continuou cheia de cartas para o Sinitox por anos. “Eles sentiam que estavam fazendo um bem e, ao mesmo tempo, aprendiam mais sobre intoxicação. Foi uma experiência muito prazerosa”, resume. Terminou por falta de recursos. “Mas a gente quer voltar”, diz Rosany, que ainda planeja comercializar os personagens das plantas tóxicas em outros produtos, como jogos e brinquedos de pelúcia, como modo de angariar recursos financeiros para o projeto – e difundir ainda mais a informação.
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