Crescem os casos de intoxicações por agrotóxico

por
Alessandro Pereira
,
09/10/2006

O Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (Sinitox), coordenado pelo Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict) da Fiocruz, acaba de concluir um estudo sobre os riscos de acidentes com agrotóxicos no Brasil. O estudo alerta para o consumo indiscriminado dessas substâncias que já são a terceira maior causa de intoxicação no país, ficando atrás apenas dos medicamentos e dos animais peçonhentos. Para analisar os dados, o Sinitox dividiu os agrotóxicos em quatro categorias: de uso agrícola, uso doméstico, uso veterinário e raticidas. Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores de soja, café e laranja, além de ser grande exportador de carne bovina, e por isso, vale a pena ficar atento as recomendações do sistema.  

Os dados informam que em 2003, as ocorrências de intoxicação por agrotóxico, no Brasil, foram superiores a 14 mil e houve 238 óbitos. Dez anos antes, em 1993, foram registrados cerca de seis mil envenenamentos com 161 mortes. “Esse crescimento pode ser explicado pela crescente exposição da população a esses produtos. Durante esses dez anos, houve um aumento da população brasileira e também do número de produtos disponíveis no mercado, isso pode ser um indício”, acredita a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner.

O Sinitox aponta para a relação entre faixa etária e os quatro tipos de intoxicação. As crianças com idade entre um e quatro anos são as maiores vítimas de envenenamento por agrotóxicos de uso doméstico (28,7%), por produtos veterinários (21%) e por raticidas (23,9%). Já os adultos jovens, na faixa de 20 a 29 anos, são os mais acometidos pelas intoxicações por produtos de uso agrícola (23,2%). O sistema também apresenta diferença quanto ao gênero. “O risco de um homem morrer tendo como causa a intoxicação por agrotóxicos é três vezes maior do que uma mulher”, diz a coordenadora.

A análise por região revela características diferentes quanto às intoxicações. Se no período de 1999 a 2003, os casos de envenenamento por raticidas cresceram 54% na Região Sul, no Centro-Oeste, o aumento registrado foi de 206% e na Região Norte, 350%. Já no nordeste, os agentes tóxicos que mais registraram crescimento, no mesmo período, foram os de uso agrícola, com uma alta de 164%. E no sudeste, foram os produtos veterinários que mais causaram acidentes com 309% de aumento.

“A zona urbana concentra a maioria dos casos de intoxicação para todos os tipos de agrotóxico, entretanto, ao dividirmos o total da população pelo número de casos, percebemos que a incidência é maior na zona rural, o que significa que o risco de uma pessoa do campo se intoxicar é quase duas vezes superior ao de uma pessoa que mora na cidade”, afirma Rosany.

Outro alerta feito pela pesquisadora é sobre o registro de casos: “Os atendimentos registrados são, majoritariamente, relacionados aos casos de intoxicação aguda, que apresentam sintomas imediatos. Isso significa que os números de intoxicação crônica, que só manifestam sintomas em longo prazo, podem ser muito maiores”.

De acordo com especialistas, a manipulação contínua, sem segurança, de agrotóxicos pode causar alergias, problemas neurológicos, cataratas, lesões no fígado, além de afetar o sistema nervoso e provocar câncer. Nos casos de gestantes, o contato com esse tipo de produto pode levar a má formação do feto.

A coordenadora do Sinitox alerta ainda, que em casos de intoxicação é necessário procurar serviço médico. Em caso de dúvidas e esclarecimentos, a população pode entrar em contato com o Disque-Intoxicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O telefone é 0800-722-6001, a ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), presente em 19 estados.

Medidas Preventivas

·        Mantenha os produtos tóxicos em local seguro e trancado, fora do alcance das mãos e dos olhos das crianças, para não despertar curiosidade e manipulação.

·        Leia atentamente os rótulos antes de usar qualquer produto e siga as instruções cuidadosamente.

·        Guarde produtos potencialmente tóxicos longe dos alimentos e dos medicamentos.

·        Mantenha os produtos nas suas embalagens originais. Não coloque produtos tóxicos em embalagens de refrigerantes e sucos.

·        Não compre produtos de origem desconhecida.

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