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Nas últimas semanas, a divulgação de um exame veterinário que confirmou a presença do novo coronavírus (SarsCov-2) em uma gata de estimação na cidade de Cuiabá (MT) foi vista com preocupação por muitas pessoas, em especial as que convivem com cães e gatos em suas casas. Contudo, especialistas da área apontam que não há evidências científicas suficientes para considerar que os animais de estimação possam oferecer riscos expressivos na disseminação do novo coronavírus para pessoas.
Um ponto que levantou muitas dúvidas a partir desse caso esteve relacionado a se o animal de estimação teve ou não a doença Covid-19. O médico veterinário Paulo Abílio Lisboa, pesquisador em saúde pública do Icict/Fiocruz, esclarece que não é possível afirmar que ela manifestou a doença. “Importante informar que cães e gatos como outras espécies de mamíferos não humanos podem apresentar outros tipos de coronavírus, sem imporância clínica para as pessoas”, informa Lisboa.
“O termo COVID-19 se refere a como a doença foi nomeada (Coronavirus disease 2019) e que tem como agente etiológico o SarsCov-2 - um betacoronavirus já conhecido por ocasionar uma doença respiratória em seres humanos. O Gato em questão teve seu diagnóstico da presença do vírus, através de uma diagnóstico molecular de um grupo familiar positivo para Covid-19. Isso significa que este grupo familiar eliminou o vírus para o ambiente e que qualquer mamífero poderia ter contato com o vírus, mas sem manifestar ou se infectar efetivamente”, explica o pesquisador.
Em entrevista, ele aborda outros pontos importantes de serem conhecidos pela população em relação à saúde humana e animal.
Descrição da imagem: Filhote de gato em cesto coberto com cobertor lilás. Crédito: Raquel Portugal/Fiocruz Imagens
Nos últimos seis meses, o que se sabe sobre a questão do coronavírus relativa a animais domésticos? E a outros animais?
Não houve grandes mudanças no cenário do novo coronavírus em animais. A Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) mantém uma página atualizada sobre as publicações, relatos e notificações sobre o SarsCov-2 nas diferentes espécies de animais. Até a presente data, tivemos entre 25 a 30 ocorrências - o que se compararmos com o tamanho da população mundial de espécies e principalmente de pets (que tem uma população estimada em cerca de 1 bilhão de animais), o número de ocorrências é importante porém pouco expressivo nas questões relacionadas a doença no homem ou nos mecanismos de transmissão ou de reservatório do vírus nestas espécies. Todos os relatos e ocorrências falam da transmissão ocasional de tutores ou tratadores infectados para os animais e nunca do animal para o homem. É importante ressaltar que nenhuma animal apresentou sinais clínicos associados a doença ou morreu em decorrência do contato com o SarsCov-2.
Quais as recomendações de saúde única para pessoas com Covid-19 que convivem com animais?
As recomendação são as mesmas estabelecidas para pessoas desde o início da pandemia. Pessoas diagnosticadas positivas (sintomáticas ou não), que devem ser isoladas para evitar a disseminação do vírus para o ambiente. Então, desta forma, pessoas positivas devem ser isoladas inclusive dos seus pets. E na impossibilidade de separação ou contato, o recomendado é reforçar ações de proteção como o uso de máscara e luvas na manipulação dos animais e alimentos e em relação aos animais a utilização de um pano úmido com uma solução de sabão neutro sobre as patinhas e o pelo, pois já são eficazes na eliminação do vírus nestas superfícies
Quais as recomendações no cuidado e prevenção para donos de animais?
As recomendações são as mesmas desde o início da pandemia. Evitar levar seu animal em lugares que exista aglomeração de pessoas, ao retornar para casa utilizar um pano úmido para a limpeza da pata e do focinho. Evitar o contato do seu animal pet com outras pessoas desconhecidas. Não deve ser utilizado, em hipótese alguma, o álcool 70 para desinfecção da pele do seu pet, pois ele pode prejudica-los e afetar sua saúde.
Como manter a proteção e o bem-estar animal durante a pandemia?
É importante que, em nenhuma condição, haja segregação ou isolamento que configure maus-tratos. Animais não se infectam e não transmitem a Covid-19. Nunca devem ser abandonados. Pets são totalmente dependentes dos seus tutores, por isso as pessoas devem continuar a dar atenção, brincar com eles, fornecer água e comida de fontes de qualidade e manter sua higiene, que é essencial para o seu bem-estar. Além disso, estudos mostraram que os animais tiveram um papel importante durante o período de isolamento, amenizando algumas questões relacionadas a saúde mental da população.
Para saber mais:
Informações da Organização Internacional de Saúde Animal sobre Covid-19 (em inglês)
Informações da Associação Americana de Medicina Veterinária (em inglês)
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
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