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Pensar a diferença foi uma questão analisada nas edições da Reciis de 2019 a partir dos dossiês e trabalhos que trataram das pessoas LGBTs e da condição feminina. Neste último número do ano, a revista traz análises sobretudo dos povos indígenas e da negritude com o dossiê Saúde, etnicidades e diversidade cultural: comunicação, territórios e resistências, fortalecendo as palavras-chave: representação, reivindicação política, (in)visibilidade, identidade e diferença.
A interculturalidade crítica foi o pressuposto considerado na construção desta edição, a qual procura questionar as desigualdades e assimetrias construídas historicamente entre os diferentes grupos sociais além do reconhecimento e valorização da diversidade étnico-cultural. Nesse sentido, a capa desta edição também dá visibilidade e voz à diversidade, com o trabalho do fotógrafo Edgar Kanaykõ Xakriabá. Em nota de conjuntura, o intelectual terena, Luiz Henrique Eloy Amado, denomina de etnocídio as táticas coloniais de dominação do Estado e escravização dos povos indígenas no Brasil, ainda permanentes na contemporaneidade.
A reflexão de Eloy Amado vai ao encontro do pensamento de Muniz Sodré. Ao refletir sobre o campo da comunicação e as questões raciais e étnicas, o professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) argumenta, em entrevista à Reciis, que a escravidão está enraizada na forma social brasileira. Mesmo sendo pessimista no sentido de alguma transformação das desigualdades raciais, Sodré tem fé nas movimentações e contramovimentações do corpo negro que mobiliza as barreiras de imunidade racista.
Para Eloy Terena, ao longo das imposições históricas da cultura europeia, os povos indígenas, “cada qual à sua maneira e estratégia, empreenderam uma resistência qualificada e criativa à dominação”.
No dossiê, a negritude foi tema do trabalho de Gessica de Castro Silva Viana e Fernanda Ariane Silva Carrera, as quais afirmam que os dispositivos comunicacionais reproduzem as desigualdades de raça e gênero a partir de estudos sobre youtubers negras. Já Ana Carolina Monari e Claudio Bertolli Filho analisam a cobertura midiática de atentados contra a própria vida de pessoas negras, revelando o silêncio dos meios de comunicação sobre o assunto, e conseguinte, do racismo presente na sociedade.
A perspectiva da comunicação intercultural e saúde é abordada no artigo de Camila Escudero que lança luz à voz da mulher imigrante no debate público sobre o ‘Projeto pró-cesárea no SUS’ em São Paulo. Numa abordagem antropológica, o dossiê apresenta o artigo de Ana Paula Massadar Morel que, no contexto indígena mexicano, traz uma discussão sobre a concepção de saúde autônoma das comunidades zapatistas. Já Renata Gabriela Cortez Gómez apresenta um estudo sobre as práticas alimentares e relações de gênero no município indígena de Ocotepec, Chiapas. A autora evidencia a produção de desigualdades em saúde nas intercessões de gênero, etnia e economia.
Em relação aos trabalhos submetidos em fluxo contínuo, a Reciis publica nesta edição artigos concernentes aos dispositivos midiáticos sobre temas de saúde como amamentação, câncer e autismo. Na sessão Resenha, André Felipe Cândido analisa o documentário Saúde! Velho Chico, dirigido por Stella Oswaldo Cruz Penido e Eduardo Vilela Thielen. Para o autor, a narrativa audiovisual representa os caminhos do Rio São Francisco além de um mero lugar geográfico, mas como uma condição de (r)existências daqueles que vivem ao seu redor.
Para anunciar esta edição, exibimos o depoimento de Muniz Sodré sobre as questões étnicas e raciais, tema abordado na seção Entrevista desta publicação. Assista pelo canal da Videosaúde Distribuidora da Fiocruz:
Aproveitamos para informar que a Reciis está com chamada aberta para o dossiê Comunicação e meio ambiente. Acesse nosso site e confira nossa chamada pública.
A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde (Reciis) é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
Acesse a íntegra da Reciis (v.13, n.4) 20019
Foto: Edgar Kanaykõ Xakriabá
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