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Alunos, pesquisadores e interessados no tema lotaram o quarto andar do prédio da Expansão do Campus da Fiocruz, na quarta e quinta-feira, dias 12 e 13 de setembro último, para a assistir o seminário internacional “Epidemias, jornalismo e políticas públicas de saúde”.
O seminário, dividido em dois dias, aconteceu na manhã e tarde do dia 12/09 e na manhã do dia 13/09.
A abertura realizada pela pesquisadora do Icict e professora do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde – PPGICS, Janine Cardoso, e o diretor do Icict, Rodrigo Murtinho, que enalteceram a possibilidade de se debater “as condições da Comunicação no debate das epidemias”. O coordenador da Rede Zika Fiocruz, Gustavo Matta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Ensp, ressaltou que “não adianta falar das epidemias, apenas quando elas ocorrem”.
Contando com Inesita Soares de Araujo, também pesquisadora do Icict e professora do PPGICS, como mediadora, o evento começou com Mónica Petracci, pesquisadora da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, que falou sobre a sua pesquisa sobre as opiniões dos jornalistas sobre as notícias em saúde. Petracci lembrou das inúmeras lógicas que o jornalistas têm que enfrentar para conseguir escrever uma matéria – como a lógica sanitária, a midiática e a contemporânea, com fontes diversas e algumas até conflitantes. “A saúde é um tema com multiplicidade de vozes e as epidemias são uma notícia em si, o que leva a uma importância na mídia”, afirmou.
Em sua pesquisa, Petracci observou que existem “muitos atores interessados em divulgar notícias sobre saúde, como o governo, a sociedade civil, as farmacêuticas, por exemplo”. A pesquisadora da Universidade de Buenos Aires lembrou que “dentre as notícias científicas, as sobre saúde são as que mais despertam interesse da população”. A notícia sobre saúde náo é considerada como relevante, exceto quando há epidemias”, afirmou. E ela lembrou que “nem todos os temas de saúde têm o seu lugar na mídia, apenas o que é considerado importante pelos atores envolvidos na divulgação dessa notícia”, o que levaria a outra questão relevante na divulgação de notícias sobre saúde
“Como lidar com a notícia sobre saúde em um cenário de espetacularização?”. Para Mónica Petracci a resposta seria “retirando a informação da notícia em si” e, de novo, falou dos interesses de cada ator envolvido em sua divulgação – “há interesses diversos ”, alertou. Ela destacou que os jornalistas, da área de saúde, “se sentem como agentes comunitários de saúde”.
O próximo a falar foi José Miguel Labrín, da Universidad de Chile, que abordou “Epidemias: periodismo y políticas públicas”, enfatizando “a importância da boa política de comunicação para o desenvolvimento de uma política de saúde pública”. Em sua apresentação ele trouxe como exemplo a implantação da Ley sobre Composición Nutricional de los Alimentos y su Publicidad, de 2016, no Chile, explicando que o país é um dos que tem a maior taxa de obesidade do mundo, 67% dos chilenos oscilando entre sobrepeso e obesidade. Das crianças entre 5 e 7 anos, 26,4% estão com sobrepeso e 23,9% já são consideradas obesas.
A lei chilena proíbe a publicidade de alimentos voltada para crianças e jovens com menos de 14 anos, exige que todos os alimentos embalados apresentem em suas embalagens selos de advertência, informando se esses alimentos continham em sua fórmula sódio, gordura, açúcar e etc. A implantação da lei foi precedida por uma pesquisa, feita pelo grupo de Labrín, que analisou a publicidade sobre os alimentos e como a lei – antes de entrar em vigor – estava sendo enfocada pela mídia. Os resultados, mostraram que das 41 notícias publicadas pela mídia chilena, “a metade era de autoridades de saúde e a outra parte era de empresários”. Ele também destacou que “nas notícias negativas, o que prevalecia eram opiniões de empresários. A maioria delas sequer se referia diretamente aos selos”, afirmou Labrín.
Segundo o pesquisador da Universidad de Chile, a estratégia usada para divulgar a nova lei levou em consideração a) uma campanha de comunicação integral; b) media advocacy, com a observação sistemática da daqueles atores que comentam sobre políticas públicas e jornalistas de mídias locais, que reconheciam o problema de sua localidade; c) gestão da crise e resposta ao conflito; e d) educação midiática voltada para a saúde, o que implicava o problema de forma ampla e pública. O resultado “foi uma campanha voltada para a decisão individual dos pais, para que eles cuidassem da saúde de seus filhos”, explicou.
Seis meses após a lei ter sido implantada, 97% da população já identificava os selos de advertência e admitia a sua influência nas decisões de consumo. Além disso, Labrín informou que foi incluído em todos os alimentos a legenda “Prefira frutas”. A partir da consolidação da lei, a indústria alimentícia chilena não perdeu tempo, como explicou Labrín: “eles passaram a utilizar os selos como referência, informando – nas embalagens – que um alimento X era ‘livre de selos’, ou seja não causava danos”.
Fechando a parte da manhã, Denise Nacif Pimenta, pesquisadora do Instituto René Rachou - Fiocruz Minas, falou sobre “As epidemias e as Ciências Sociais”, destacando a necessidade delas se relacionarem e também com a sociedade, para que ambas possam contribuir para uma saúde de fato pública.
Ela deu como exemplo o que ocorreu no 54º Congresso Nacional de Saúde Tropical - MedTrop 2018, em setembro no Recife (Pernambuco). "Um grupo de diferentes atores - organizações não sociais e associações de famílias - vêm influenciando as pesquisas são feitas. Um exemplo disso foi quando Germana Soares, presidente da ong União de Mães de Anjos - UMA, que dá apoio a mulheres que tenham filhos com microcefalia, em decorrência do virus da zika, questionou a não participação delas em um congresso que, dentre outras coisas, mostraria os resultados de várias pesquisas sobre o tema".
A pesquisadora da Fiocruz chamou a atenção para a necessidade de "interação" entre pesquisadores e a sociedade civil, e que sejam levados em consideração por eles a importância do contexto social, evitando generalizações e 'receitas' ("scalinp up") e a implicação do território nas análises sociais. Ao falar sobre o papel da Comunicação no contexto das epidemias, Denise Pimenta questionou: "quais os interesses que estão por trás das campanhas, que já se sabem que não funcionam? Quais as dimensões objetivas e subjetivas dos sujeitos sociais? O que funciona na prevenção e controle e informação/comunicação?".
O evento seguiu com as apresentações e debates de professores de programas de pós-graduação da UERJ, UFES, UFJFJ, UFRJ e USP (veja a programação aqui)
O evento teve o apoio dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPGICOM/UFJF) e Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e tem o financiamento parcial do European Union's Horizon 2020 Research and Innovation Programme, ZIKAlliance Grant Agreement nº 734548.
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