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Arte: VideoSaúde Distribuidora
A Beleza Do Crepúsculo é um filme que fala sobre o fim. Presente no extenso catálogo da plataforma Fioflix VideoSaúde, o documentário aborda a velhice, as suas nuances, complexidades e subjetividades. Até mesmo o seu título - A Beleza do Crepúsculo - é conciso ao explicar a si mesmo: a beleza presente nos últimos momentos de sol de um dia, a beleza do fim. Assim como o seu tempo de duração - 12 minutos - o filme é sucinto em seu formato, sendo composto por relatos de vida dos moradores idosos do morro do Dendê. Até mesmo a paleta de cores resume-se ao estritamente necessário para a vista: o preto e branco.
Logo em seu princípio, o filme nos exibe um plano de uma pipa velha e rasgada, presa nos fios de eletricidade molhados pela chuva. Ela não exerce mais a função para a qual foi feita, porém guarda as memórias de uma vida de brincadeiras em que voou a céu aberto. A fotografia é belíssima ao resumir-se à simplicidade do preto e branco, capturando o contraste entre o claro e escuro e nos dando a possibilidade de simplesmente apreciar o movimento da chuva contra os fios de eletricidade. A música é nostálgica e agradável, um simples violão. É depois de vermos imagens do morro do Dendê que somos contemplados com os dizeres “espelho”. Atrás deles, a imagem de um muro de uma arquitetura clássica os emoldura. Ele também está molhado pela chuva, sendo refletido por uma poça que se destaca à sua frente, como um espelho. Diferente de tudo o que se enxerga, as letras se fazem coloridas em tons intensos de pôr do sol antes de se desbotarem em branco. São as palavras - memórias - que carregam as cores de uma vida e são elas que carregam a beleza desse filme.
Antes de começarmos a ouvir os relatos, vemos os nomes e as idades daqueles que falam. Raimunda Camilo, 91 anos. Júlio Lopes, 79 anos. Severina Dantas, 95 anos. José Guimarães, 105 anos. Rita da Silva, 87 anos. Nesses primeiros planos, a maior parte dos rostos espelham-se em ambos os lados da tela. Todas as primeiras palavras colorem as primeiras memórias da vida: as do nascimento e as de quando foram morar no morro do Dendê, onde moram até hoje. As únicas imagens são essas senhoras e esses senhores falando, em um belo e clássico preto e branco. Essa ausência de estímulos visuais abre espaço para que imaginemos por conta própria como eram as suas vidas. Além de histórias de vida, o filme coleciona perspectivas sobre a velhice e o fim no qual as cores se desbotam mas ainda continuam presentes nas memórias.
A chuva está muito presente nas imagens. O seu som nostálgico e suave permeia o filme e enfeita os relatos que ouvimos sobre a vida, família, saudade e despedida. É bastante simples, mas é essa simplicidade que fica quando olha-se para trás depois de uma vida bem vivida. É, de fato, simples, mas também bastante efetivo. Embora a obra carregue em si muita beleza, ela também se propõe a explorar temas difíceis. Em um plano quase completamente preto - iluminado apenas por um buraco no meio por onde se passa a luz do sol e a água da chuva - lê-se: “Em 2016, a Secretaria de Direitos Humanos registrou 25.062 denúncias de negligência ao idoso no Brasil”. Dona Raimunda profere uma das falas que abordam essa temática quando diz “Um filho ou filha tem que ter o máximo cuidado, o respeito e o amor a uma mãe que deu a vida pra te criar [...] se você abandonar a sua mãe é porque você não presta.” Infelizmente, a problemática do abandono e da negligência também se faz muito presente não só pelos 12 minutos de exibição do filme, mas também na sociedade em que vivemos.
O fim nada mais é do que um desfecho natural para uma história de vida. O contentamento com a morte é muito expressado aqui através de falas como: “Tenho medo de morrer não, a nossa alma tem que sair, o corpo vai dentro do caixão mas a alma não, é fora.” O senhor José nos faz voltar para o primeiro plano da pipa velha e rasgada que não é mais capaz de voar ao dizer que “já queria estar voando”. É assim que a morte é retratada aqui, como algo inevitável, embora nem todos a enxerguem com tanta tranquilidade: “Uma coisa que eu não posso te responder, porque quem foi não veio me falar nada. [...] eu não sei o que é morte, não entendo o que é morte.” Após esses relatos, exibe-se um plano de uma escada filmada de baixo, como se pudéssemos subí-la. Ela se desfoca e abre espaço para que um texto surja suavemente. A voz de uma criança o profere antes que as letras que o emolduram percam a cor e se desbotem em branco.
“A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa - talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel. No crepúsculo, as cores se põem em movimento. O azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo - tudo rapidamente”.
O preto e branco dá lugar ao rosto colorido de Severina, que sorri conforme as cores vibrantes - quase infantis - emolduram seu rosto. Um piano suave toca ao fundo. Ele continua a soar conforme a imagem desaparece suavemente dando lugar aos créditos finais. Para assistir A Beleza Do Crepúsculo e outros 400 filmes sobre saúde, ciência e tecnologia, acesse a nossa plataforma Fioflix: VídeoSaúde.
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