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Arte: Vera Fernandes (Ascom/Icict/Fiocruz)
Neste ano, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) realiza a segunda edição do Prêmio Intercom de Comunicação, que substituiu as premiações Freitas Nobre, Francisco Morel e Vera Giangrande para reconhecer as melhores pesquisas desenvolvidas no ano anterior em quatro categorias, popularmente conhecidas como Prêmios Estudantis Intercom: Doutorado, Mestrado Acadêmico, Mestrado Profissional e Graduação.
Os 12 trabalhos vencedores – três em cada categoria – foram escolhidos pelo júri com base nos critérios estabelecidos no regulamento da premiação: contribuição para a área; relevância e atualidade do tema; abordagem teórico-metodológica; e qualidade do texto. A cerimônia de premiação será realizada no dia 6 de setembro na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) em Belo Horizonte, durante a etapa presencial do 46º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2023).
Na edição passada, o Jornal Intercom trouxe entrevistas com Lorena Cruz Esteves (UFPA), primeira colocada na categoria Doutorado, e com Jefferson Saylon Lima de Sousa, primeiro colocado em Mestrado Profissional. Para esta edição, conversamos com as pesquisadoras que ficaram no primeiro lugar das categorias Mestrado Acadêmico e Graduação. O site Confira:
Luiza Gomes Henriques, 1º lugar na categoria Mestrado Acadêmico com a dissertação Quando o outro fala por si: gradiente de participação popular em ações de comunicação da Fundação Oswaldo Cruz em tempos de epidemia, defendida no Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (PPGICS/Icict-Fiocruz) sob a orientação de Inesita Soares de Araujo.
Jornal Intercom – Como foi o processo de participar dos Prêmios Estudantis Intercom?
Luiza Henriques – O programa onde eu cursei o mestrado (PPGICS/Icict-Fiocruz) é que fez a inscrição. Eu nem sabia que estava inscrita. Soube da premiação quando recebi um e-mail da coordenação do programa informando a mim e a minha orientadora, Inesita Soares de Araujo.
Jornal Intercom – Para você, o que significa receber o primeiro lugar do prêmio em sua categoria?
Luiza Henriques – Penso que premiações desse tipo – ainda mais concedidas por uma instituição com a notoriedade da Intercom – são dadas a trabalhos que contribuíram de forma relevante com o campo de conhecimento em que se inserem. O prêmio é um símbolo de reconhecimento de um trabalho bem fundamentado que incentiva os pesquisadores responsáveis por ele e, ao mesmo tempo, informa o campo acerca de temas, perspectivas teóricas e metodologias que estão sendo avaliados como férteis, produtivos. Pessoalmente, é uma alegria, honra e grande fonte de satisfação saber que todo o esforço, os sacrifícios pessoais, as dores físicas [risos] que todo cientista brasileiro – suponho – experimente possam ter dado um bom fruto à sociedade e à comunidade científica, retribuindo o aprendizado que venho tendo na pesquisa e na atuação profissional em uma instituição pública de ciência e saúde.
Jornal Intercom – Qual é a contribuição que sua pesquisa dá ao campo da Comunicação?
Luiza Henriques – Acredito que a principal seja pautar a importância de as instituições públicas criarem mecanismos para promover uma escuta qualificada da sociedade civil organizada (particularmente, movimentos sociais e organizações populares) nas suas ações de comunicação. Esse princípio, comunicacional, dialógico e democrático por natureza, está previsto em, ao menos, dois princípios do Sistema Único de Saúde (SUS): a participação social e a equidade. A crítica à falta de transparência e à ineficácia de políticas públicas construídas de “cima para baixo”, sem participação da população, é comum a diversos movimentos sociais, atuantes em diferentes campos da vida: moradia, segurança alimentar, gênero, segurança pública, saúde (sentido estrito) e outros. No campo da Comunicação e Saúde, essa crítica se expressa por meio de diagnósticos fartamente documentados que sinalizam que as instituições públicas, em contextos de crise sanitária, continuam mobilizando uma forma autoritária de se comunicar com a população, fundamentada no modelo transferencial, descontextualizada e que desconsidera informações e saberes previamente existentes.
A pesquisa que desenvolvi junto à professora Inesita problematiza essa “impermeabilidade comunicativa” do poder público – que é constituído não só por ministérios, câmaras e cortes, mas também autarquias e fundações no Executivo. Ao mesmo tempo, ao documentar iniciativas do campo da Comunicação que furam esse bloqueio e conseguem enxergar e dialogar com esse “outro”, acredito que estejamos incentivando que metodologias mais participativas na comunicação sejam experimentadas. Não apenas por coerência com o princípio da fé pública dessas instituições e de sua função social nos referidos contextos sanitários, mas para o próprio alcance do objetivo de comunicar com diferentes grupos de pessoas a partir da ciência. Sabemos que essas metodologias podem não ser convenientes ao modo corrente de fazer comunicação, centrado na figura do emissor, mas acreditamos que nosso campo seja dinâmico e fértil o suficiente para experimentarmos novos modelos.
Jornal Intercom – Em sua visão, qual é a importância de existir um prêmio como esse?
Luiza Henriques – Acredito que as premiações sejam instrumentos eficazes para destacar produções científicas relevantes para um dado momento histórico. É uma forma de atrair atenção para um determinado tema e, assim, estimular entre os pesquisadores um fluxo de reflexões e estudos naquela direção. Penso no prêmio como um recurso simbólico que ajuda a organizar as informações de um campo de conhecimento, amplificando assuntos e pesquisas que apresentem abordagens inovadoras. Olhando dessa forma, os prêmios podem ser geradores de novos trabalhos e movimentar o campo científico em direções que beneficiem ainda mais a sociedade.
Outro destaque da premiação foi a tese de Tatiana Clébicar Leite, intitulada "‘Transver o mundo’: o Dia Nacional da Visibilidade Trans pela ótica de pessoas, campanhas e notícias", classificada como a terceira melhor tese de Doutorado. Tatiana foi orientada por Kátia Lerner, do PPGICS/Icict.
Leia também a entrevista com Marcia Daniela Pianaro Valenga, 1º lugar na categoria Graduação com o trabalho de conclusão de curso (TCC) "A nova forma de assistir o jornalismo: uma análise de recepção dos produtos jornalísticos disponíveis no streaming Globoplay"
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