Pesquisa estuda a incidência dos atropelamentos no Rio de Janeiro

por
Rafael Vinícius
,
08/10/2008

Os acidentes de trânsito são uma das causas de maior impacto na saúde da população brasileira, levando em consideração óbitos, internações e seqüelas deixadas em suas vítimas. Em 2001, por exemplo, os acidentes de trânsito ocuparam a segunda posição entre as causas externas de mortalidade no Brasil. Já em 2004, representaram um gasto hospitalar excessivo para o Sistema Único de Saúde (SUS) de 8,6% do total dos recursos destinados às internações. Os dados, do Ministério da Saúde, foram estudados por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz, no projeto “Geoprocessamento para Vigilância e Análise da Distribuição Espacial de Acidentes de Trânsito no Brasil”, que teve como foco os atropelamentos que ocorreram nos municípios fluminenses.

Os resultados da pesquisa, realizada em 2005, mostram que os municípios de Campos (58,66%) e Cabo Frio (65,75%) são os locais que possuem o maior índice de atropelamento. Já Itatiaia e Mangaratiba apresentam os menores índices do estado do Rio. Na análise dos bairros, o trabalho foi realizado apenas com números absolutos, já que as pessoas transitam de maneira acentuada de um bairro ao outro. Centro (240) e Campo Grande (164) apresentam os maiores números anuais e Abolição (2), Leme (2) e Água Santa (1) os menores. “Os dados evidenciaram que nem sempre as pessoas são atropeladas no bairro em que moram. Além disso, notou-se que há uma grande concentração de pessoas no Centro, o que facilita o direcionamento de políticas de saúde”, observou a coordenadora da pesquisa, Mônica Magalhães.

Os dados de óbito por atropelamento nos estados brasileiros demonstram que, em quase todos os estados, os óbitos em homens apresentam um número mais elevado do que em mulheres. Os dois estados com maior número de acidentes são: São Paulo (2.167) e Rio de Janeiro (1.367). Os menores números são registrados em Rondônia (15) e Roraima (6). Com relação às taxas de mortalidade por atropelamento, destacou-se o estado do Amapá, talvez por um atendimento inadequado nos hospitais, socorro deficitário por ambulância e instabilidade nos cálculos de taxas.

O objetivo da pesquisa foi realizar análises espaciais dos acidentes de trânsito, propor procedimentos exploratórios dos dados já existentes e criar um roteiro para a vigilância e monitoramento dos acidentes. Além disso, houve a preocupação de elaborar um modelo de capacitação técnica em análise de dados espaciais e viabilizar um treinamento para os profissionais. “Devido a um desejo antigo do grupo de trabalho e da falta de disponibilização de dados pelos municípios, o foco do projeto foi os atropelamentos no estado do Rio, o que só foi possível devido à integração dos bancos de dados e da ajuda do Corpo de Bombeiros”, afirmou a coordenadora da pesquisa.

Especialista destaca que há mais morte nos hospitais do que no local do acidente

De acordo com a coordenadora, o trabalho foi iniciado com a formulação de um questionário para entender como os municípios tratavam os acidentes de trânsito a fim de saber se a cartografia digital e os Sistemas de Informação Geográfica (ferramentas do geoprocessamento) eram usadas. “Chegou-se a conclusão de que nenhuma localidade fazia o uso dos procedimentos para a análise de dados espaciais. Notamos, então, que seria difícil esperar retorno adequado dos municípios e fazer um trabalho que abordasse os acidentes de trânsito neles”, concluiu a coordenadora.

“Com a ajuda do Corpo de Bombeiros, localizamos os pontos de maior incidência de atropelamentos e constatamos que as pessoas, em sua maioria, não são atropeladas próximas a sua residência”, destacou a coordenadora. Ela ainda explicou que as pessoas morrem mais no hospital do que no local do acidente e que o Corpo de Bombeiros ajudou na espacialização dos dados, ou seja, na tentativa de afirmar com precisão onde foi o acidente.

O projeto ainda destacou a importância do Código de Trânsito Brasileiro (1998) e o Plano Nacional para Redução da Morbimortalidade por Acidentes de Trânsito (2001), como as principais políticas adotadas para a redução da mortalidade por acidentes de trânsito no país. Além disso, a crescente implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) em diversos municípios do país também merece destaque. “Além de se gastar muito dinheiro com os acidentes de trânsito, ele se constitui em um sério problema de saúde pública”, afirmou a coordenadora.

 

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