Pesquisa revela que homens têm dificuldade para envelhecer

por
Rafael Cavadas
,
07/08/2006

Por que os homens e as mulheres envelhecem de formas diferentes? A partir dessa pergunta, a pesquisadora do Centro de Informação Científica e Tecnológica (Cict/ Fiocruz), Dália Romero, conseguiu traçar um perfil do processo de envelhecimento da população brasileira. O resultado alerta para a dificuldade que o sexo masculino tem com o avanço da idade. A pesquisa indica que os homens vivem menos, vão menos ao médico, possuem hábitos menos saudáveis que as mulheres e que, na terceira idade, dificilmente moram sozinhos.

Os indicadores revelam que as brasileiras vivem em média 75 anos, enquanto seus parceiros vivem somente 67, ou seja, oito anos menos. Essa diferença na expectativa de vida é causada pelo que a pesquisadora chama de riscos culturais, relacionados à violência, acidentes de trânsito e abusos como o fumo e o álcool, que os homens estariam mais sujeitos. O estudo demonstra que em todas as faixas etárias os homens morrem mais do que as mulheres. E essa estimativa se torna mais evidente entre os adultos jovens: a cada quatro mortes de indivíduos com idade entre 20 e 29 anos, três são de homens.

Outro fator relacionado à morte prematura dos homens é a baixa procura pelos serviços de saúde. De acordo com a pesquisa, enquanto 62,3% das mulheres consultaram algum médico nas duas últimas semanas, apenas 46,7% dos homens tiveram a mesma iniciativa. Para a pesquisadora, essa negligência faz com que os homens sejam responsáveis por um maior número de internação em situação grave e procurem mais os serviços de emergência.

Chegando à terceira idade, eles enfrentam mais dificuldades do que as mulheres. É o que indica o inquérito aplicado em Fortaleza (CE), em 1999, com pessoas acima de 65 anos. O resultado mostra que mais da metade (55%) dos senhores depende de outras pessoas para cuidar da casa e preparar a sua alimentação enquanto 90% das mais velhas participam das atividades domésticas.

A pesquisadora atribui a maior autonomia da mulher no dia-a-dia a sua multifuncionalidade. “A sociedade exige que a mulher se divida entre o trabalho, as obrigações com a casa e o cuidado com os filhos. Assim, ela se torna mais plural. Por outro lado, o homem se ocupa somente com o trabalho. A aposentadoria faz com que ele perca sua função social, caia no sedentarismo e fique mais sujeito à depressão. É preciso que ele descubra o lar e encontre o seu espaço”, diz Dália.
 
Para a pesquisadora, a discussão sobre envelhecimento não interessa somente aos mais velhos. Segundo ela, o processo de envelhecer começa no nascimento e, por conta disso, os indicadores estão relacionados às práticas de toda a vida.

Dália destaca a relevância do estudo por duas razões: a primeira se deve ao aumento da expectativa de vida em todo o mundo e a segunda, pelo fato das pesquisas relacionadas a gênero estarem mais focadas nas questões femininas. "Os números mostram que temos que pensar numa política de saúde voltada também para o homem, que não está conseguindo acompanhar as mulheres no envelhecimento", diz Dália.
 
De acordo com a pesquisa, em 1980, o excedente de mulheres na população brasileira estava em torno de 1 milhão. No ano 2000, o número estava em 3 milhões e a estimativa é que em 2050 a diferença ultrapasse a casa dos 8 milhões.

Comentar

Preencha caso queira receber a resposta por e-mail.

Assuntos relacionados

“O Brasil está preparado para o envelhecimento da população”

Dália Romero fala sobre as políticas públicas e a capacitação de gestores

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.

O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.

Logo acesso Aberto 10 anos logo todo somos SUS