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Quando abriu suas portas, há 10 anos, o Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) buscava responder a um desafio primordial. Como criar abordagens que, mais plurais, pudessem lançar luz aos novos objetos e questões que emergiam na interseção entre comunicação, informação e saúde? Único programa do país que, de cunho interdisciplinar, atua no enlace entre esses três campos, o PPGICS começou as comemorações pela sua primeira década de vida lembrando que, hoje, as respostas a esse desafio são ainda mais complexas.
Um programa como o PPGICS, afinal, não tem como desafios apenas a interdisciplinaridade que o rege. Ou a forma como a tecnologia incide na comunicação e na informação, afetando diretamente a produção de sentidos no campo da saúde. Fazer investigações nessa interseção implica encarar também os impasses do passado que não cessam de se reconfigurar. As iniquidades, os silenciamentos, as discriminações e múltiplas formas de violência, por exemplo. Foi o que destacaram os pesquisadores reunidos no prédio da Expansão Fiocruz, nesta segunda-feira (12/8), abrindo a 3ª Jornada PPGICS.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima (Foto: Raquel Portugal - Icict/Fiocruz)
“É evidente a centralidade que a comunicação e a informação vêm assumindo no âmbito da saúde, cada vez mais. Mas esses campos são centrais, também, para a democracia”, destacou a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, que prosseguiu: “O PPGICS sempre buscou pensar a comunicação e a informação como chaves para estruturar novas formas de poder. Não à toa, temas como a ciência aberta, o acesso livre ao conhecimento e a ideia de comunicação pública têm sido essenciais à sua agenda de pesquisa, que mantém como eixo principal a superação das desigualdades e o fortalecimento da democracia.”
Vinculado ao Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, o PPGICS já formou cerca de 50 doutores e 100 mestres. Recebeu nota 5 logo na primeira avaliação trienal da Capes, ampliou seu espaço físico e ganhou vários prêmios. E, nesses 10 anos, teve a singularidade como marca.
O atual coordenador do PPGICS, Wilson Borges, ao lado de ex-coordenadores: Inesita Soares, Katia Lerner, Paulo Borges e Janine Miranda (Foto: Raquel Portugal - Icict/Fiocruz)
“A história do PPGICS não pode ser narrada se não em paralelo à do próprio Icict”, destacou a pesquisadora e professora Katia Lerner, que também já foi coordenadora do programa, lembrando que o hoje Instituto de Comunicação e Informação em Saúde foi um centro de apoio à pesquisa entre 1992 e 2006. “A mudança de centro para instituto fortaleceu seu papel não apenas de apoio à pesquisa [feita em outros espaços], mas também de pólo ativo na produção de ciência. Um pólo, pórem, que sempre teve a heterogeneidade como marca. Assim, o nascimento do PPGICS não foi súbito: representou o desdobramento de uma série de atividades de ensino que já aconteciam desde a década de 80, no espaço que hoje chamamos Icict, e que eram resultado e ao mesmo tempo catalisadores de experiências mais amplas. Nosso ensino nunca foi espaço somente para a teoria. Tampouco a interdisciplinaridade foi exatamente uma escolha. Foi, sim, um desdobramento de práticas”, definiu.
“Nossa percepção era a de que a comunicação não poderia mais ser encarada como um conjunto de técnicas que busca transmitir algo a alguém. O PPGICS nasceu com a proposta de superar uma visão pré-estabelecida do campo da comunicação”, ressaltou a pesquisadora e ex-coordenadora Janine Miranda.
Rodrigo Murtinho, diretor do Icict e pesquisador, também reiterou que o nascimento oficial, há 10 anos, foi consequência natural da agenda de atividades, ensinos e debates que já ocorriam no espaço do instituto: “O PPGICS é fruto da experiência acumulada no ensino da unidade, do amadurecimento dos cursos que já existiam.”
Uma experiência que não se limitava às atividades de ensino, mas também à criação de produtos e de estratégias de comunicação que levassem em conta os princípios do Sistema Único de Saúde, o SUS. Talvez por isso o programa seja, em si mesmo, uma inovação — como destacou o jornalista Umberto Trigueiros, ex-diretor do Icict. “Hoje é comum falarmos em ‘interdisciplinaridade’. Mas não era assim há 10 anos. E por isso o PPGICS já nasceu com inúmeros desafios”, relembrou. “O programa surgiu num período de grande renovação dentro da Fiocruz, consequência direta do legado deixado pela gestão de Sergio Arouca, que consolidou uma busca de sinergia entre as pesquisas.”
Parte da equipe do PPGICS (Foto: Raquel Portugal - Icict/Fiocruz)
Um tipo de renovação evocada também na fala de Inesita Soares de Araújo, pesquisadora que foi a primeira coordenadora do programa: “Na aula inaugural do PPGICS, em 2009, eu afirmei que estávamos investindo no programa para que fosse um espaço privilegiado de construção da tão desejada interdisciplinaridade. Aquela que, sem desconsiderar ou perder de vista as especificidades dos conhecimentos e dos campos envolvidos, opere sobre os elos, as conexões, os interstícios, produzindo outros olhares, outras abordagens, outros modos de pesquisar os novos objetos que os campos da informação e da comunicação nos apresentam contemporaneamente e constantemente. E nestes dez anos temos buscado dar materialidade, sobretudo epistemológica e metodológica, a esse espaço intersticial, fronteiriço e ainda muito por ser compreendido, que é a tal da interdisciplinaridade.”
Uma busca que não cessa de se transformar. “Uma das tarefas que se agiganta, hoje, é formar mestres e doutores que se comprometam com a luta contra a desigualdade, contra todas as formas de produzir discriminação, exclusão e inexistência de pessoas e grupos. Contra todas as formas de silenciamento, para as quais a nossa área de informação e comunicação tanto contribui, para o bem e para o mal”, prosseguiu Inesita. “Outra tarefa e desafio – ressalto que sempre na minha percepção, que não é única nem dominante no PPGICS – é conseguir encontrar caminhos factíveis que sejam menos pasteurizados e regrados por interesses que não são nossos, mas atendem a uma visão muito diferente de mundo, de vida, de ciência e de ensino. E esse talvez seja o mais difícil. Essa tarefa é de todos nós, professores, alunos, a turma da gestão do ensino.”
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
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