RJ fecha o ano com baixa cobertura vacinal em crianças

por
Bel Levy (Observa Infância)
,
23/12/2022

Imagem: Vacinação infantil | Fotógrafo: Tomaz Silva | Agência Brasil

Crianças menores de 5 anos que vivem no estado do Rio de Janeiro estão vulneráveis a contrair sarampo, caxumba, rubéola, tétano, difteria, coqueluche, meningite C, hepatite A, hepatite B e outras doenças evitáveis que podem levar à morte e gerar sequelas graves, devido à baixa cobertura vacinal registrada em 2022. A conclusão é de levantamento do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) que analisou dados preliminares do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). O estudo aponta que o estado do Rio de Janeiro não chegou à meta estipulada pelo Ministério da Saúde para nenhuma das vacinas do calendário básico infantil e está abaixo da média nacional em todos os imunizantes.

A coordenadora do Observa Infância, Patricia Boccolini, explica que a meta anual é vacinar 90% dos bebês menores de 1 ano com a BCG. Para a febre amarela, a meta é 100%, enquanto para os demais imunizantes do calendário básico a meta estipulada pelo Ministério da Saúde é 95%. “No estado do Rio de Janeiro, até o fim de novembro, apenas 75% dos bebês que deveriam ser imunizados com a BCG, que protege contra formas graves de tuberculose, receberam o imunizante. O cenário fluminense contrasta com a média nacional, que chegou a 92%, colocando a BCG como a única vacina do calendário básico infantil a cumprir o preconizado pela pasta”, aponta a pesquisadora.

As vacinas que protegem contra poliomielite; difteria, tétano e coqueluche; hepatite B e pneumonia e meningite bacterianas não chegaram à metade da população-alvo no estado do Rio de Janeiro. Em território fluminense, a situação é ainda mais preocupante em relação ao sarampo: apenas 28% dos bebês que deveriam ser vacinados receberam a segunda dose do imunizante na idade recomendada. As coberturas vacinais do estado também são extremamente baixas para febre amarela (41%); catapora (34%) e hepatite A (31%). 

Patricia esclarece que o levantamento é preliminar, pois o ano de 2022 ainda não está fechado e os municípios têm até 2024 para registrar dados no sistema de informações do Ministério da Saúde. “Os dados foram coletados em 28 de novembro de 2022.  É possível que alguns municípios ainda alcancem a meta para algumas vacinas, mas nos cenários nacional e estadual dificilmente veremos uma mudança tão abrupta, ainda mais se considerarmos a tendência dos últimos anos, pois 2022 não é um caso isolado. Ao longo da última década, o que vemos ano após ano é um cenário de queda constante nas taxas de vacinação”, conclui a coordenadora do Observa Infância.

Metodologia

Os dados foram coletados em 28 de novembro de 2022. Para o cálculo da cobertura vacinal em crianças menores de 1 ano, o Observa Infância considera o número de doses aplicadas naquele ano e o número de nascidos vivos no ano corrente, segundo o Sistema Nacional de Nascidos Vivos (Sinasc). Para crianças que já completaram 1 ano, a estimativa é baseada no número de nascidos vivos do ano anterior menos o número de óbitos de menores de 1 ano registrados também no ano anterior, segundo o Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM). Os dados ainda podem sofrer alterações devido ao tempo necessário para o preenchimento. Os municípios têm prazo até 2024 para finalizar os registros. O Observa Infância calcula a cobertura do grupo de vacinas indicadas para a proteção contra as mesmas doenças, o que permite acomodar as mudanças no calendário e estabilizar os indicadores vacinais para trabalhar com a série histórica. 

Observa Infância

O Observatório de Saúde na Infância - Observa Infância é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada e facilitar a compreensão sobre dados obtidos junto a sistemas de informação nacionais. As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), do Centro Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.

Patricia Boccolini é pesquisadora do Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão Social (NIPPIS), fruto de acordo de colaboração entre o Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). É professora adjunta da Faculdade de Medicina de Petrópolis, da Unifase, e pesquisadora colaboradora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). É graduada em Ciências Sociais (2002) e História (2007) pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ). Desenvolve pesquisas e estudos sobre avaliação de políticas públicas em saúde e sistemas de informação em saúde. 

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