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Em Amazônia sem garimpo, povos indígenas contam os dramas e o perigo da contaminação dos rios e das águas pelo mercúrio da mineração. A produção também traz uma novidade para a Plataforma de Filmes Videosaúde Fiocruz: a animação com narração em duas línguas indígenas - Yanomami e Munduruku, além do português. As narrações foram feitas pelas próprias populações indígenas e o roteiro desenvolvido coletivamente entre produtores audiovisuais, pesquisadores e os povos retratados.
O projeto foi coordenado pelos pesquisadores Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fiocruz, e Ana Claudia Vasconcellos. Escola Politécnica, da Fiocruz. Basta, em trabalho de campo em Roraima, contou para a VideoSaúde como surgiu o projeto do documentário e com foi a parceria com as populações indígenas que participam da animação.
“Amazônia Sem Garimpo” compõe uma das estratégias para devolutiva de resultados aos povos indígenas envolvidos com o projeto de pesquisa "Impactos do Mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia: Uma Abordagem Integrada Saúde e Ambiente", desenvolvido pelo grupo de pesquisa "Ambiente, Diversidade e Saúde" da Fiocruz, sob coordenação dos pesquisadores Paulo Basta (ENSP) e Ana Claudia Vasconcellos (EPSJV).
Este projeto nasceu para atender um pedido de apoio recebido por intermédio de uma carta enviada pela Associação Indígena Pariri, que representa o povo Munduruku do médio Rio Tapajós, no estado do Pará. Na carta, o povo Munduruku solicitava ajuda para entender os impactos e as consequências da presença de garimpos ilegais e do uso indiscriminado do mercúrio à saúde da população e ao ecossistema amazônico, em seus territórios ancestrais.
Após a realização da pesquisa com coleta de dados primários nas aldeias (entre outubro e novembro de 2019) e a entrega do relatório técnico às lideranças (na sede do Ministério Público do estado do Pará, em Santarém, em outubro de 2020) e a apresentação de laudos individuais aos participantes (em setembro de 2022), nosso grupo elaborou este documentário de animação, com protagonistas indígenas compartilhando seus olhares e suas experiências de vida e convívio forçado com os invasores, em seus territórios.
Ao final do trabalho de campo, visitamos 35 domicílios nas aldeias estudadas e avaliamos um total de 200 participantes, adultos e crianças. Os níveis de mercúrio variaram de 1,4 a 23,9 μg/g, com diferenças significativas entre as aldeias investigadas. Em média, cerca de 6 a cada 10 participantes (57,9%) apresentaram níveis de exposição ao Hg acima de 6,0 μg/g, o limite de segurança estabelecido. Na aldeia Sawré Muybu, mais próxima do município de Itaituba e mais distante das atividades ilegais de mineração, 4 a cada 10 participantes apresentaram níveis de exposição ao Hg acima dos limites seguranças empregados neste estudo. Na aldeia Poxo Muybu, mais distante do município de Itaituba e localizada a uma distância intermediária das atividades ilegais de mineração, 6 a cada 10 participantes apresentaram níveis de exposição ao Hg acima dos limites de 6,0 μg/g. Já na aldeia Sawré Aboy, localizada às margens do rio Jamanxin, bem próxima das atividades ilegais de mineração, 9 a cada 10 participantes apresentaram níveis de exposição ao Hg acima dos limites de segurança empregados nesta pesquisa. Pudemos observar um gradiente de contaminação. Ou seja, à medida que nossa equipe avançava para as regiões mais próximas do garimpo ilegal, maiores foram os índices humanos de contaminação. Ademais, durante o trabalho foram capturados 88 espécimes de pescado, representantes de 17 espécies distintas, incluindo peixes piscívoros e não piscívoros. Em nossa amostra, os peixes piscívoros, ou seja, aqueles peixes que se alimentam de outros peixes, em particular a piranha preta foi, apresentaram os maiores níveis de contaminação.
O roteiro foi elaborado com a finalidade de comunicar aos povos atingidos não somente os principais achados da pesquisa, mas também informações úteis para prevenção da contaminação por mercúrio e orientações dietéticas para o consumo seguro de pescados. Além da equipe de pesquisadores e de profissionais da área audiovisual, participaram da construção do roteiro do filme lideranças indígenas e professores da etnia Munduruku.
A fim de atingir um público mais amplo, incluindo indígenas que vivem em outras áreas afetadas pelo garimpo ilegal, decidimos produzir o filme em 3 línguas, com versões em português, Munduruku e Yanomami. Após concluído o roteiro, as narrações foram feitas por Alessandra Korap Munduruku, Jairo Saw Munduruku e Dário Vitório Kopenawa Yanomami, em português, Munduruku e Yanomami, respectivamente.
A trilha sonora é constituída por canções originais do coletivo Tarde Ilustrada e do compositor Leandro Floresta, e foi concebida durante o processo de produção da película.
Direção, Produção e Roteiro
Tiago Carvalho
Direção, Produção e Montagem
Julia Bernstein
Ilustrações
Guilherme Petreca
Animação
Diego Santos
Desenho Sonoro
Damião Lopes
Trilha Sonora
Tarde Ilustrada
Música de Créditos: Rio da Vida
Leandro Floresta
Narração em Português
Alessandra Korap Munduruku
Narração e Tradução em Munduruku
Jairo Saw Munduruku
Narração e Tradução em Yanomami
Dário Vitório Kopenawa Yanomami
Oficina de Roteiro com o Povo Munduruku
Nuno Godolphin
Coordenação Geral
Ana Claudia Santiago de Vasconcellos (EPSJV/Fiocruz)
Coordenação Adjunta
Paulo Cesar Basta (ENSP/Fiocruz)
A animação é parte integrante do projeto de pesquisa "Impactos do Mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia: Uma Abordagem Integrada Saúde e Ambiente"
Produção Executiva
Ana Claudia Santiago de Vasconcellos (EPSJV/Fiocruz)
Paulo Cesar Basta (ENSP/Fiocruz)
Financiamento
Programa INOVA | Fiocruz
VPAAPS | Fiocruz via projeto "Aprimoramento do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, através do desenvolvimento de estudos técnicos, pesquisas científicas e ações estratégicas, essenciais para a diversificação, ampliação e qualidade dos serviços de saúde prestados aos indígenas".
Realização
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP)
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
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