Reciis aborda relação entre atores do sistema de saúde brasileiro

por
Cristiane d'Ávila
,
03/04/2012

"Encontros que transformam"

Editorial: Maria Cristina Soares Guimarães e Josué Laguardia

A Reciis começa mais um ano de trabalho com muito otimismo. O primeiro número de 2012 traz artigos que dialogam entre si porque retiram sua força de temas, metodologias e estudos bastante atuais. São olhares que se encontram sobre campos e objetos cujo fascínio é também a razão da dificuldade de abordá-los: são permeáveis, fluidos, em complexa e continuada transformação em si mesmos, mas também funcionando como motores de mudanças nos contextos em que se encaixam.

Dois artigos e uma pesquisa mapeiam, por meio da análise de entrevistas realizadas com públicos bastante específicos, a interseção entre a educação e a pesquisa em saúde e a informação. Com o artigo “ A informação retida pelo paciente sobre seu problema de saúde em um hospital-escola”, Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - com o auxílio dos estudantes extensionistas Bruno Melo Fernandes, Raissa Dantas de Sá, Antônio Edilton Rolim Filho, Rodolfo Augusto Bacelar de Athayde, Samuel Gouveia da Costa Duarte e Isabel Barroso Augusto Silva -  sugere que programas e ações educativos que levam aos pacientes conhecimento sobre o próprio tratamento levaria à uma maior adesão às terapias propostas.

Ressurge também no artigo de José Carvalho de Noronha, Telma Ruth Silva e Fernando Szklo a percepção que determinados atores têm da saúde – agora, especificamente, como sistema. “O que os pesquisadores pensam do sistema de pesquisa em saúde no Brasil: um estudo piloto” explicita as expectativas de cientistas, formuladores de política científica e usuários de resultados de pesquisa relacionando o  funcionamento do sistema de pesquisa em saúde – inclusive em termos de recursos - e o que identificam como  funções fundamentais dele: melhoria da saúde da população, avanço do conhecimento e promoção da equidade.

A pesquisa “Representações e sentidos sobre a revelação do diagnóstico da tuberculose e suas relações com a adesão ao tratamento”, de Fernando Lefèvre e  Roberta Andrea de Oliveira, busca categorias discursivas - por parte de pacientes e de profissionais em saúde - que colaborariam para identificar uma dimensão educativa na  revelação de um diagnóstico: o que se retém, nesse processo, que possa ser – na expressão dos autores -  transformador.

Embora apoiado na revisão de outros estudos e não em entrevistas, “As diversas faces do acompanhamento de crianças hospitalizadas” está também voltado para uma dimensão transformadora do objeto que desbrava, e para as trocas de informação entre o público assistido pelo sistema de saúde e os profissionais que o atendem. Angela Hygino Rangel e Joana Garcia concluem que o acompanhamento interfere intensamente na dinâmica institucional, para além da esfera do cuidado e das garantias de proteção da criança.

A formulação e divulgação massificada da informação sobre saúde via grande mídia são o interesse central dos artigos “A Política Nacional de Humanização e a mídia televisiva: um estudo sobre as possíveis divergências entre as propostas de humanização e o seriado SOS Emergência da Rede Globo” e “Mediações da informação em saúde pública: um estudo sobre a dengue”. No primeiro, Adriana Maiarotti Justo e Adilson Cabral Filho buscam, com apoio de uma revisão bibliográfica, convergências e divergências entre as propostas de humanização constantes na PNH e o que exibe um programa, popular na televisão aberta brasileira, que se propõe a retratar o dia a dia de uma unidade do sistema único de saúde.  No segundo, o interesse sobre o imaginário social com relação ao SUS desloca-se da ficção para a comunicação do risco real. Usando a dengue como exemplo e a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo como ferramenta, Edlaine Faria de Moura Villela e Marco Antonio de Almeida examinam o contexto de Ribeirão Preto, em São Paulo.

Usos e possibilidades da tecnologia na Fiocruz são o ponto em comum entre os artigos “A Prospecção Tecnológica como Ferramenta de Planejamento Estratégico para a construção do futuro do Instituto Oswaldo Cruz”, por Mônica M. Martins de Oliveira e Cristiane Machado Quental,  e “Tecnologia da Informação na Fundação Oswaldo Cruz”, de Paulo Eduardo Potyguara Coutinho Marques e Tatiana Wargas de Faria Baptista. Os textos servem ao planejamento para que a maior entidade de saúde coletiva do Brasil possa cumprir com excelência sua missão. No entanto, Oliveira e Quental propõem um desenho de estudo prospectivo original a partir de um único instituto, enquanto Marques e Baptista fazem um levantamento da situação geral da Fundação, constatando que há muito a trilhar, ainda, em questões estratégicas em informação, como o acesso livre.

Em ”Alinhamento da cooperação dos Estados Unidos e da União Européia vis-à-vis os países em desenvolvimento”,  Paulo Buss, José Roberto Ferreira e Claudia Hoirisch analisam a reorientação das políticas de saúde na cooperação internacional desses grandes doadores, em relação aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Aponta-se que devem priorizar o fortalecimento de sistemas integrais de saúde como uma estratégia em prol da saúde global.

Este número traz, ainda, as tradicionais resenhas de livros e filmes. A jornalista Silvia Santos se ocupa do documentário “O veneno está na mesa”, de Silvio Tendler, sobre o papel dos agrotóxicos no agrobusiness brasileiro, expondo o que Eduardo Galeano chamou de divórcio entre natureza e direitos humanos.  Elisia M. de J. Santos traz “Hospital de Orixás: encontros terapêuticos em terreiro de candomblé”, livro em que Estelio Gomberg  apresenta o espaço social terreiro  como lugar de promoção e cuidado em saúde.

Para finalizar, uma novidade: a Reciis passa a publicar as datas de recebimento e aceite dos artigos publicados, em alinhamento com as melhores práticas e políticas editoriais em  voga.  É mais uma  das muitas transformações pelas quais a revista vem passando, sempre tendo em vista proporcionar ao seu leitor a melhor experiência possível. Boa leitura.

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