Debate avalia a importância do engajamento em lutas políticas

por
Jamile Chequer
,
14/07/2011

A importância do engajamento nas lutas políticas dos mais diversos tipos e a certeza de que esse envolvimento “vale a pena” foi o tom da mesa-redonda “Criatividade e Utopias em sua experiência de resistência à Ditadura”, realizada na terça-feira (12/7).

Promovido pelo Sindicado dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc) e apoiado pelo Icict, o encontro, mediado por Paulo Cesar Ribeiro, presidente da Asfoc, reuniu Ilma Noronha, coordenadora da Rede de Bibliotecas da Fiocruz e ex diretora-geral da Asfoc e do Icict, Nilton Bahlis dos Santos, pesquisador do Icict, Renato Balão Cordeiro, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e Umberto Trigueiros, diretor do Icict e ex-diretor da Asfoc, para uma conversa sobre suas experiências durante a Ditadura.

O debate foi motivado pelo lançamento do livro “O Estádio era mais alegre", de Nilton Bahlis dos Santos, coordenador do grupo de pesquisa “Tecnologias, Cultura e Práticas Interativas e Inovação em Saúde”, da Fiocruz e coordenador do Núcleo de Experimentação de Novas Tecnologias (Next/Icict). Segundo ele, a ideia da publicação surgiu quando percebeu que os debates sobre a Ditadura giravam em torno das torturas e sofrimento dos militantes. Embora considere esse aspecto importante, Nilton acredita que é fundamental falar sobre a motivação do engajamento político.

Com longa trajetória em movimentos sociais, ele esteve presente em alguns golpes de Estado, como os do Brasil e do Chile, e observou algumas características comuns no que diz respeito à motivação para a luta: a utopia, que faz com que as pessoas acreditem que vale a pena lutar; o entendimento de que a guerra nunca é “total” e, portanto, no lado ‘inimigo’ é possível encontrar pessoas sensíveis a sua causa e, por isso, é possível encontrar ‘brechas’; e a noção de pertencimento. “Nos envolvemos em lutas políticas porque cada um de nós se sente parte de um todo maior do que nós mesmos. É assim que construímos o tecido coletivo”, resume.

O diretor do Icict, Umberto Trigueiros, contou um pouco da sua vivência nos golpes do Brasil e do Chile. Ele explica que se envolveu na luta política ainda adolescente. “Essa foi uma experiência intensa que comecei porque era um jovem de classe média, vivia uma pasmaceira e não queria ver a vida passar pela janela. Não me arrependo de nada. No momento que você percebe a correlação de forças e se é possível fazer algo, tenta uma transformação. Esse é o legado da nossa geração que fica para ser analisado”, revela.

Para ele, é fundamental conhecer a história, destacar o que ela tem de positivo e apontar as situações que não devem ser repetidas. “As ditaduras permitiram com que nos encontrássemos e descobríssemos que a América Latina existia e que nós éramos parecidos. Ninguém esperava por isso”, analisa.

Ilma Noronha ainda era adolescente quanto se juntou à Aliança Libertadora Nacional. Na clandestinidade, conheceu seu marido e teve sua filha. “Eu faria tudo de novo, se fosse preciso”, conta. A ex-diretora do Icict explicou que depois de sair da prisão pela segunda vez, foi trabalhar no Instituto Fernandes Figueiras (IFF/Fiocruz) e logo se envolveu no movimento pela redemocratização da instituição. “Na época que cheguei aqui a barra era pesada, era uma outra instituição”, lembra.

Sobre esse tema também falou Renato Cordeiro. O pesquisador do IOC prestou homenagem aos 10 cientistas da Fiocruz cassados pelo AI-5 e rememorou a importância da resistência à Ditadura na instituição.  Segundo ele, a redemocratização da Fiocruz foi impulsionada, principalmente, pela atuação do então presidente da Fundação Sergio Arouca, em 1986. “Ele agiu com grande ousadia ao reintegrar os cientistas cassados. Esse foi um grande marco”, aponta.

Renato revelou que, ao buscar os seus arquivos da Ditadura, descobriu que os documentos da Fiocruz e do Ministério da Saúde estarão disponíveis no Arquivo Nacional em breve. “Vamos saber o que realmente aconteceu no processo de cassação desses cientistas”, anima-se.

 

 

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