Informação como caminho para políticas de saúde

por
Jamile Chequer
,
04/10/2011

Com o objetivo de refletir sobre o impacto do acelerado processo de envelhecimento populacional no Brasil e a construção de políticas públicas de saúde que deem conta desse desafio, foi realizado, em 3/10, na Fiocruz, o seminário "Relevância da informação para a construção e efetivação de políticas públicas de saúde do idoso". Na ocasião, foi lançado o Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso (Sisap-Idoso), uma inovadora ferramenta de gestão para fornecer aos gestores em saúde informações e indicadores que auxiliem a tomada de decisões e o planejamento de ações voltadas à população idosa, tanto no âmbito municipal como no estadual, desenvolvido pelo Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict/Fiocruz), em conjunto com a Área Técnica da Saúde do Idoso do Ministério da Saúde (MS).

A ferramenta, apresentada pela coordenadora geral do Sistema e pesquisadora do Lis (Icict/Fiocruz), Dália Romero, tem como um dos objetivos associar as políticas e programas com indicadores, diretos ou indiretos, de monitoramento de metas e diretrizes pactuadas pelas mesmas. Na mesa de abertura do encontro, Umberto Trigueiros, diretor do Icict, José Luiz Telles, coordenador do Escritório da Fiocruz na África, Silvia Pereira, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Karla Giacomin, do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso e Luiza Machado, coordenadora da Área Técnica Saúde da Pessoa Idosa do MS, destacaram a sua importância.

Para Umberto Trigueiros, é preciso detectar se o Brasil está aparelhado no que diz respeito aos equipamentos e a estrutura de assistência à saúde para atender a demanda gerada pelo aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população. “A construção de um bom sistema de informações, como o Sisap, que pode e deve ser apropriado por gestores dos três níveis de governo é decisivo para a construção de uma boa política de saúde pública”, disse.

Segundo Karla Giacomin, o Sisap foi construído a partir do entendimento de que as questões de saúde vão além de medir as doenças dos idosos. “Espero que os gestores se envolvam com essa ferramenta, introduzam números e os transformem em políticas de Estado”, aponta.

Na palestra “Impacto do envelhecimento populacional na América Latina: desafios e oportunidades”, o chefe da Área de População e Desenvolvimento da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Paulo Saad, traçou um panorama sobre as transformações demográficas no mundo e seus efeitos econômicos e falou sobre o impacto na área de saúde.

Paulo Saad estima que, em 2030, o Brasil deve duplicar a proporção de gastos em saúde, chegando a investir mais de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) nessa pasta. “O financiamento dos sistemas de saúde passa a ser uma questão crítica que requer atenção especial e urgente por parte dos governos. Isso significa visão de longo prazo para antecipar essas transformações demográficas e implica em modificar estratégias de monitoramento, prevenção e tratamento e o reforço do sistema de vigilância”, explica.

A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano falou sobre “Envelhecimento populacional na agenda das políticas públicas brasileiras”. Segundo ela, pesquisa realizada pelo Ipea revela que, em 2010, 66% das instituições de cuidados aos idosos eram filantrópicas, 22% privadas e 6% públicas, incluindo os três níveis de governo. O governo federal seria responsável apenas pela instituição Abrigo Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que abriga 298 idosos. “Menos de 1% dos idosos com dificuldades para a vida diária residem em instituições”, revela Ana.

De acordo com ela, é preciso estabelecer políticas públicas que possibilitem alternativas de cuidados e incentivar a participação do mercado privado na oferta de serviços.  “Temos que dobrar a capacidade do Estado e criar outras formas de cuidado que não o formal. Pensar em uma nova divisão do trabalho entre Estado, família e mercado. Em que medida o Estado vai assumir esta responsabilidade é uma decisão política”, aponta.

Com o tema “Políticas, Gestão e Atenção à saúde do idoso no SUS”, a mesa redonda da tarde teve como participantes Luiza Machado, coordenadora da Área Técnica Saúde da Pessoa Idosa do Idoso do MS, Rejane Laetta, secretaria Estadual de Saúde, Germana Perissé, da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC), Elyne Engstrom, coordenadora do projeto Teias-Escola Manguinhos e Edgar Nunes, coordenador do Centro de Referência do Idoso da UFMG que focaram suas apresentações nas experiências de suas instituições.

No final do encontro, o médico cardiologista e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Mário Antônio Sayeg, pioneiro dos estudos sobre envelhecimento e saúde no Brasil e fundador do Programa de Atenção à Saúde do Idoso (Pasi) da Ensp recebeu homenagem in memoriam.

 

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