">
No último dia 24/02, o Departamento Internacional de Controle de Narcóticos, ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), divulgou um relatório contendo as principais tendências do uso de drogas lícitas e ilícitas no mundo. De acordo com o documento, referente a 2009, o uso abusivo de medicamentos controlados supera o de drogas ilícitas, como cocaína, ecstasy e heroína. Mortes como a do cantor Michael Jackson e da atriz Brittany Murphy, no ano passado, chamaram a atenção das autoridades para este problema.
Ao analisar os dados do relatório, a pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e coordenadora do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), Rosany Bochner, considera que o resultado pontua uma questão importante: os medicamentos são muito mais bem aceitos pela sociedade do que as drogas ilícitas. “O problema é que as pessoas não entendem que os medicamentos também são uma droga. A diferença é que são uma droga lícita, mas causam dependência”, explica Rosany.
Rosany lembra que o abuso no uso de medicamentos pode ser atribuído ao alto nível de estresse e ansiedade da sociedade, causado pelos mais diversos fatores. A pesquisadora ainda cita outros problemas que podem provocar o aumento do uso de medicamentos, como a facilidade no manuseio das embalagens, as propagandas e a falta de informação da sociedade. Segundo ela, os medicamentos que apresentam as maiores taxas de intoxicação são os de venda controlada, que necessitam de prescrição médica.
Rosany diz que as pessoas devem procurar saber com que tipo de medicamento estão lidando, seus efeitos colaterais. “Muito se fala dos benefícios que esses medicamentos podem trazer, mas não se aponta que esses medicamentos estão cheios de contra-indicações, que as pessoas que os usam podem passar mal, ter dor de cabeça, enjôo, etc”, alerta.
De acordo com a pesquisadora, no Brasil os medicamentos de venda controlada são fáceis de manusear. Na maioria das vezes, são vendidos em cartelas, o que facilita a ingestão por parte das crianças. "As bulas também não são muito claras, dificilmente as pessoas as lêem, e muitas vezes não entendem o que está escrito nelas”, explica a pesquisadora.
Dados do Sinitox de 2007 revelam que nos grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste, principalmente, se observa maior tendência ao uso de medicamentos e, conseqüentemente, maior risco de intoxicações. Já cidades das regiões Norte e Nordeste registram altas taxas de intoxicação por plantas medicinais e animais peçonhentos. Ainda segundo dados do Sinitox, as mulheres fazem mais uso de medicamentos do que os homens.
Por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a partir de 31/03 haverá umreajuste no preço dos medicamentos o que, de acordo com a pesquisadora, poderá causar ainda mais problemas. “Com o aumento, as pessoas de baixo poder aquisitivo, que já têm dificuldade para comprar remédios, provavelmente farão uso de plantas medicinais, o que pode acarretar outros tipos de intoxicação”, adverte Rosany.
Para a pesquisadora, apesar das iniciativas para reduzir o uso de medicamentos, como no caso da venda de antibióticos, no qual a prescrição médica e a receita ficam ‘presas’ na farmácia, é necessário que se crie um projeto de lei que obrigue cada laboratório a pagar um percentual sobre a produção ou a venda por cada medicamento fabricado. “Com esse dinheiro, o governo poderia, por exemplo, recolher os medicamentos que sobram e os incinerar”, conclui Rosany.
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668
Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.
O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.
Comentar