Segurança do paciente em hospitais é tema de debate

por
Rafael Vinicius
,
24/11/2009

O Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) recebeu, no dia 10/11, a coordenadora do Programa Mundial de Segurança do Paciente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Itziar Larizgotia, para um debate acerca da segurança do paciente. O encontro, no auditório da Unidade, foi pautado pela “Pesquisa de Prevalência de Eventos Adversos em Hospitais do Brasil”, desenvolvida por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), em colaboração com a OMS e coordenada pela pesquisadora do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict), Cláudia Travassos. Ao lado de Cláudia e Itziar, estiveram na reunião Andersom Fagundes, da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde; os pesquisadores da Ensp, Luiz Antônio Camacho, Mônica Martins e Walter Mendes e a assistente da pesquisa, Ana Luiza.

Durante o encontro, Itziar destacou que o importante é fortalecer o compromisso com o Ministério da Saúde, condição necessária para que qualquer estudo na área de segurança do paciente tenha continuidade. Andersom apoiou a idéia e acrescentou que o Ministério tem interesse em financiar projetos em hospitais de ensino nas regiões Norte e Nordeste. “Existem muitos projetos desenvolvidos voltados para área de desigualdade nestas regiões”, pontuou. A questão mais discutida na reunião ficou por conta da redução do número de hospitais em que serão feitos levantamentos de dados acerca dos eventos adversos, com o grupo chegando à conclusão de que a redução de 25 para cerca de 15, com cada um possuindo entre 300 e 500 leitos, seria adequada. “Deve haver um debate com o Ministério sobre os critérios de inclusão de cada um dos hospitais. A participação deles deve ser voluntária. É importante que as unidades queiram realmente colaborar” explicou a coordenadora.

Itziar fala para pesquisadores

O grupo se reuniu para trabalhar a questão da mensuração, incidência, metas e dados sobre segurança do paciente no Brasil. De acordo com Cláudia, esse campo da segurança produz novas questões e a primeira forma encontrada para trabalhar foi com os alunos da disciplina “Validação de instrumentos de monitoramento de Eventos Adversos em hospitais brasileiros” da Ensp, iniciada em 2009. O curso tem como objetivo discutir conceitos e metodologias relacionados à qualidade do cuidado, com ênfase na segurança do cuidado prestado aos pacientes e no monitoramento de eventos adversos.

Durante a visita da coordenadora, em outra atividade, a Escola promoveu uma série de exposições sobre a segurança do paciente e temas afins com alunos de mestrado e doutorado, que apresentaram seus estudos para Itziar Larizgotia. As exibições foram organizadas pelo grupo da linha de pesquisa “Avaliação de Tecnologia e Serviços de Saúde”, coordenada pela pesquisadora da Ensp, Suely Rozenfeld, e por Claudia Travassos.

Antes de acompanhar a apresentação dos alunos, Itziar discorreu sobre o seu trabalho, que contribui para posicionar a segurança do paciente na agenda política mundial. A coordenadora destacou a criação do Programa, que visa despertar a consciência e o compromisso dos países no desenvolvimento de políticas públicas e práticas para a segurança do paciente. “Formação de profissionais em segurança do paciente, preparação técnica de profissionais de saúde e investigação aplicada para identificar soluções localmente efetivas podem aumentar a segurança”, afirmou Itziar. Ainda de acordo com a coordenadora, programas que abrangem aspectos sistêmicos e técnicos para melhoria da segurança são organizados todo ano.

Diretor da Ensp e pesquisadores com Itziar

Ao falar sobre a possível responsabilidade de um profissional ou de uma instituição em algum erro médico, Itziar salientou que uma equipe médica deve trabalhar em suas melhores condições e assumir suas competências. A coordenadora assegurou que apenas uma mudança no sistema de saúde como um todo não é suficiente para resolver esses casos. “Falta identificar quais as causas latentes do evento adverso, porque muitas vezes são problemas facilmente modificados. Temos que pesquisar os problemas locais para fazer mudanças culturais, envolvendo os profissionais que o integra”, explicou.

Um protocolo internacional, que trabalha na identificação de riscos potenciais aos quais os pacientes estão sujeitos ao longo do processo de cuidado de saúde, foi outro ponto de destaque do encontro na Escola. “O protocolo já está sendo aplicado em países da América Latina, como Argentina, Costa Rica, Colômbia, México e Peru. Esperamos que o Brasil siga nesse processo”, enfatizou a coordenadora, que ainda deu o exemplo da Espanha, ao afirmar que nove em cada cem pacientes que ingressam nos hospitais do País sofrem um evento adverso relacionado ao cuidado de saúde.

Trabalho apresentado destaca o silêncio que cerca a questão do erro médico

Em um dos trabalhos expostos após a exposição da Coordenadora do Programa Mundial de Segurança do Paciente, a doutoranda da Ensp, Nadia Nascimento, apresentou pesquisa relacionada à compreensão da dinâmica comportamental relacionada à violação das normas e procedimentos de higienização de mãos por parte dos médicos. Nádia relatou que na primeira parte do trabalho de campo ficou por quase três meses analisando hospitais em São Paulo, e que na segunda etapa realizará o mesmo tipo de observação e análise em hospitais do Rio de Janeiro. O silêncio que cerca a questão do erro médico foi um dos fatores que motivaram a investigação realizada.

“A baixa adesão aos procedimentos de higienização de mãos incide sobre a segurança do paciente no que diz respeito à prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde. Inúmeras campanhas têm sido fomentadas pelas agências internacionais a esse respeito, mas observa-se que os resultados esperados não são alcançados”, destacou a doutoranda.

Versão de teste de Portal sobre segurança do paciente está sendo desenvolvida

O Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e a Segurança do Paciente apresenta o Portal PROQUALIS como o seu principal canal de comunicação. O Centro Colaborador encontra-se em estágio de formação de redes colaborativas integradas por especialistas e de desenvolvimento do Portal, em versão de teste. O objetivo do PROQUALIS é manter um elo e diminuir a distância física entre os participantes da iniciativa, bem como contribuir com a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde. O Centro Colaborador apóia o Ministério da Saúde no que diz respeito à qualidade do cuidado em saúde, às iniciativas para a segurança do paciente e à difusão de diretrizes clínicas.

Relatório "Errar é Humano" ajudou a colocar a segurança do paciente na agenda política e científica mundial

A pauta sobre qualidade do cuidado em saúde e segurança do paciente se intensificou após o aumento, a partir da década de 80, da divulgação na imprensa sobre problemas relacionados ao tema. Em 2000, o Instituto de Medicina dos Estados Unidos emitiu um relatório com o título "Errar é Humano", contendo estimativas de mortes evitáveis (infecção hospitalar, incidentes com procedimentos cirúrgicos e anestésicos, entre outros), o que atraiu atenção sobre o problema e impulsionaram diversas novas ações, além de colocar o tema na agenda política e científica mundial.

O artigo "The assessment of adverse events in hospitals in Brazil", que analisou três hospitais no Rio de Janeiro, encontrou uma proporção de eventos adversos (complicações indesejadas decorrentes do cuidado prestado aos pacientes, não atribuídas à evolução natural da doença de base) de quase 8%, semelhante à observada em países desenvolvidos. O estudo, desenvolvido por Walter Mendes, Mônica Martins, Suely Rozenfeld e Cláudia Travassos, corrobora toda a preocupação de pesquisadores e estudiosos com a temática da segurança do paciente.

 

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