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Foto: Peter Ilicciev/Fiocruz
As queimadas em larga escala na Amazônia e no Pantanal – que estão atingindo níveis recordes em 2020 – tendem a agravar o quadro de epidemia de Covid-19 nessas regiões, que compreendem municípios em geral carentes de infraestrutura hospitalar de alta complexidade e de serviços de atenção básica de saúde, além de abrigarem populações com maior vulnerabilidade social. Somente em agosto (segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Inpe), o número de focos ativos de queimadas na Amazônia Legal foi de 39.177, cerca de 160% maior do que no mesmo mês em 2019, enquanto no Pantanal foi de 5.935, 300% acima do mesmo período no ano passado.
Nota Técnica produzida por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), intitulada Covid-19 e queimadas na Amazônia Legal e no Pantanal: aspectos cumulativos e vulnerabilidades, visa alertar o SUS quanto aos riscos e cuidados necessários diante deste quadro. A Nota aponta um risco de 30% no aumento da internação por doenças respiratórias de crianças moradoras de áreas próximas a queimadas, em comparação com crianças residentes em outras áreas.
A exposição à fumaça gerada pelas queimadas pode gerar doenças respiratórias, processos inflamatórios e agravar os casos de Covid-19. Além disso, “mesmo que não haja a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, as pessoas afetadas pela fumaça derivada de queimadas poderão enfrentar sérios problemas de diagnóstico e atendimento na rede de saúde, que já se encontra comprometida com a atenção aos doentes graves de Covid-19, principalmente em leitos hospitalares (...). O esperado aumento na incidência de doenças cardiovasculares e respiratórias, principalmente em grupos mais vulneráveis como crianças e idosos, em virtude das queimadas, tende a intensificar a demanda por serviços de saúde dessas regiões”, diz a Nota Técnica.
O estudo mostra que três regiões apresentam os maiores riscos à saúde pública num cenário de queimadas associado à epidemia causada pelo novo coronavírus. São elas: o Bioma Pantanal; o Arco do Desmatamento no sudeste do Pará e norte do Mato Grosso; e a Porção Ocidental da Amazônia Legal. O Bioma Pantanal compreende apenas 11 municípios, todos com escassez de serviços de saúde e com altas taxas de casos e óbitos por Covid-19. Além disso, o Mato Grosso do Sul, onde se localiza o Bioma, é um dos epicentros atuais da epidemia do novo coronavírus desde junho de 2020. Já o sudeste do Pará e do norte do Mato Grosso (que engloba unidades de conservação ambiental e terras indígenas, incluindo o Parque do Xingu) tem elevado número de desmatamentos, além das queimadas. E a Porção Ocidental da Amazônia Legal (que inclui os estados do Amazonas e Acre) apresenta alta incidência de casos e de óbitos por Covid-19 numa região que historicamente apresenta escassez de serviços de saúde e de estradas.
Nos últimos anos, antes da epidemia de Covid-19, estudos realizados pelo Icict e por outras instituições já alertavam para um aumento na incidência de doenças respiratórias no período do ano em que ocorre, de forma coincidente, a diminuição das chuvas na Amazônia e no Pantanal, a queda dos índices de umidade, a ocorrência de queimadas e a contaminação atmosférica pelos diversos tipos de poluentes.
“O resultado é que mais pessoas procuram os serviços de saúde com problemas respiratórios, e aí deparam-se com um cenário bastante adverso: além de contar com uma rede insuficiente de atendimento básico e de alta complexidade, deparam-se com um sistema de saúde já saturado pelos crescentes casos de Covid-19. Ou seja, o atendimento não dá conta, já não dava conta antes e agora está ainda pior”, analisa Christovam Barcellos, especialista em Saúde Pública e vice-diretor do Icict. Além disso, pode confundir o diagnóstico clínico, por apresentar alguns sintomas semelhantes.
De acordo com a Nota Técnica, os focos de queimadas atingem grande parte dos estados do Mato Grosso, Rondônia, Maranhão, leste de Roraima e leste do Pará, além de parte do Mato Grosso do Sul, próxima ao Pantanal.
“Fora dessas áreas, o padrão de queimadas é bastante diverso e segue as principais estradas da região: BR-163 no oeste do Pará, BR-230 (Transamazônica) no Amazonas, e a BR-364 em Rondônia e no Acre. Esse padrão demonstra a relação intrínseca entre as frentes de ocupação da Amazônia, o desmatamento e os incêndios florestais”, afirma Tatiane Moraes, que participou do estudo, acrescentando que os estados de Roraima, Amapá, Mato Grosso, Amazonas, Rondônia, Acre e Pará vêm apresentando elevadas taxas de casos e óbitos de Covid-19.
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