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Arte: Luciana Rocha Clua (Multimeios/Icict/Fiocruz) | Imagem: Peter Ilicciev (Fiocruz Imagens)
O último número de 2023 da Reciis é composto pelo dossiê ‘O povo da rua: saúde, políticas públicas e comunicação’, que reúne artigos originais que refletem com a rua e seus sujeitos que agem, compartilham e produzem sentidos do comum humano em relação ao campo da saúde e políticas públicas. A edição traz também discussões sobre o estabelecimento de uma política de comunicação para o SUS e caminhos para a consolidação de ações que mobilizam a compreensão de Acesso Aberto para a de Ciência Aberta a fim de promover uma descolonização do conhecimento. A Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Reciis) é editada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz).
Em Nota de Conjuntura, Cláudia Lemos e Débora Pinheiro destacam que a pandemia de covid-19 revelou a importância da comunicação pública da saúde e da ciência e, ao mesmo tempo, a fragilidade da estrutura pública de comunicação de forma geral e particularmente do SUS, o que possibilitou a institucionalização da desinformação nos próprios canais oficiais. Apontam que esse problema envolve aspectos comunicacionais relacionados a crenças, valores, modos de vida e práticas de acesso; e para lidar com ele é preciso compreender a comunicação como parte integrante e não apenas como ferramenta e instrumento na construção de políticas públicas.
Nesse sentido, as autoras destacam as deliberações ocorridas na 17ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), ocorrida neste ano, entre elas: a criação de uma política de Estado para a comunicação do SUS e o fortalecimento da carreira do comunicador no serviço público e no SUS como caminho para concretizar a comunicação como direito e acesso a outros direitos fundamentais democráticos.
De acordo com as editoras convidadas do dossiê ‘O povo da rua: saúde, políticas públicas e comunicação’, Maria Lívia Roriz e Alexandra Oliveira, a coletânea de artigos trata daqueles que recebem o cuidado, trabalham, aprendem-ensinam e/ou integram à denominada ‘população em situação de rua’ e são compreendidos como o Mesmo de nós e que costumamos imaginar e colocar como o Outro.
Nessa perspectiva, o artigo que abre o dossiê, de Fabiana Ferreira Koopmans et al, propõe a escuta, o acolhimento, o afeto e a amorosidade como eixos reflexivos-metodológicos no cuidado à população de rua. No segundo artigo, Gabriel Antonio Ferreira Angelin et al. observam a rua como lugar do trabalho e investigam o sucateamento dos direitos trabalhistas e o impacto da saúde mental dos entregadores de aplicativos.
No trabalho de Carlos Eduardo Abbud Hannah Roque et al., a mídia é o lugar para pensar sobre as relações entre o jornalismo, a população em situação de rua e os grandes eventos internacionais, especificamente, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos realizados em 2016 no Brasil. Os autores questionam se as pessoas em situação de rua são representadas pelo jornalismo como responsáveis pela violência urbana ou vítimas de grupos violentos. O dossiê termina com o artigo de Johnny Alvarez, que discute uma experiência em etnoeducação na escola comunitária Quilombola Boa Vista Cuminã, em Oriximiná, no Pará, na qual o ser coletivo quilombo é pensado como dispositivo de um ensinar-aprender que rompe com posições hierárquicas e opostas entre ensinar e aprender, sendo, portanto, caminhos para uma vida comunitária baseada no comum humano.
Na seção Entrevista, publicada em versão bilíngue, a editora assistente Ana Carolina Monari entrevista a socióloga Deborah Lupton, renomada pesquisadora nos estudos sobre as dimensões socioculturais da medicina e da saúde pública. Lupton comenta sobre a cultura do risco nas quais as pessoas estabelecem fronteiras simbólicas entre si e o outro, em que determinados grupos sociais passam a ser considerados um risco e uma ameaça à comunidade. Ela conta como essa dinâmica se deu durante a pandemia de covid-19 junto às questões referentes ao anticientificismo, negacionismo e atuações de governos populistas no enfrentamento dessa emergência sanitária, fazendo articulações entre a Austrália e o Brasil.
Em editorial, os editores científicos Kizi Mendonça Araújo, Igor Sacramento e Christovam Barcellos relembram a trajetória do movimento de Acesso Aberto e defendem que as iniciativas de consolidação da Ciência Aberta precisam dialogar com a política de avaliação vigente e sinalizar novas formas de abertura da ciência na sua relação com a sociedade. Enfatizam a necessidade de investimentos nas iniciativas de qualificação e sustentabilidade dos periódicos e bases de dados nacionais -que atualmente sobrevivem com poucos recursos – no âmbito da América Latina, como possibilidade a fim de evitar a manutenção subordinada às dinâmicas editoriais do norte-global.
O número apresenta ainda uma resenha sobre o livro ‘Desinformação e covid-19: desafios contemporâneos na comunicação e saúde’, escrita por Vânia Coutinho Quintanilha Borges. Para a autora o livro oferece uma diversidade de análises e iniciativas no enfrentamento das dificuldades fomentadas pela covid-19 a partir de diferentes concepções teóricas que buscam compreender as interfaces complexas que conectam a comunicação e a saúde.
Por meio de submissão em fluxo contínuo, o último número de 2023 apresenta ainda artigos originais que versam sobre a relação entre saúde, comunicação e informação em temas como: a acessibilidade e a saúde digital no Sistema Único de Saúde, respectivamente, no interior da Bahia e em Palmas (TO); quilombolas no Pará, doença de Chagas, vigilância em saúde do trabalhador, aplicativos em saúde e proteção de dados.
Clique na imagem abaixo para acessar o quarto número de 2023 da Reciis v. 17, n. 4 Dossiê O povo da rua: saúde, políticas públicas e comunicação.
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