Observatório de Clima e Saúde participa da COP 28

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Assessoria de Comunicação do Icict/Fiocruz
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21/12/2023

A Fiocruz esteve representada pela primeira vez na Conferência do Clima da ONU (COP). Durante a 28ª edição do encontro – realizado entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, em Dubai (Emirados Árabes) – a delegação brasileira de saúde e clima contou com 12 participantes e atuou ativamente dos seminários, reuniões e entrevistas sobre o papel do setor saúde no enfrentamento da crise climática. A comitiva foi chefiada pela Ministra da Saúde, Nísia Trindade.  

O pesquisador do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Christovam Barcellos, integrou a comitiva e apresentou o trabalho realizado no Observatório em eventos realizados por organizações como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Alliance for Action on Climate Change and Health (ATACH), pelo agrupamento regional da Organização Mundial da Saúde para a África (WHO-AFRO), além de reuniões com a Organização Panamericana de Saúde (OPS) e Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), do Ministério da Saúde do Brasil. 

Para Barcellos, a COP deixa evidente que cada país, região e bioma do mundo vem enfrentando os impactos das mudanças climáticas de maneira diferente e que é urgente produzir diagnósticos locais sobre as condições de saúde atuais e ameaças futuras. Também é preciso monitorar a evolução de doenças sensíveis ao clima, bem como a capacidade de resposta dos sistemas de saúde à crise em questão. A partir desses dados será possível estabelecer metas, estratégias e prioridades de ação para o setor de saúde, com intensa participação popular e integração de ações com outros setores de governo e da sociedade civil. “É uma tarefa urgente e necessária do nosso observatório, que já possui 14 anos de atuação, e de outras plataformas que se possam criar em outros países, apoiados e capacitados pelo Observatório de Clima e Saúde”, declarou Christovam. O Observatório terá um papel fundamental na organização de informações para o debate sobre clima e saúde na COP 30, a ser realizada em Belém, em 2025.  

O pesquisador ressalta ainda que a atenção de todo o mundo se volta para as ações concretas que podem atenuar os efeitos dessa crise, tendo em conta a intrincada trama de interesses econômicos e geopolíticos que estão envolvidos nesses acordos.  

A saúde em debate na COP 28 

As COPs (Conferência das Partes) são grandes eventos, que desde 1992 vêm reunindo dirigentes de todos os países do mundo, movimentos sociais e comunidades afetadas, bem como pesquisadores de diferentes especialidades para debater sobre as mudanças climáticas. Nessa 28ª edição, que aconteceu em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro, a saúde ganhou destaque especial, com um dia inteiro dedicado à discussão sobre os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde das populações, as vulnerabilidades de grupos socioespaciais, as estratégias de adaptação, fortalecimento e resiliência dos sistemas de saúde para um novo contexto de aumento global da temperatura e processos climáticos que estão em curso, como os eventos extremos e desastres.  

A atenção de todo o mundo agora se volta para essas ações concretas que podem atenuar os efeitos dessa crise, tendo em conta a intrincada trama de interesses econômicos e geopolíticos que estão envolvidos nesses acordos. A mobilização da ciência e dos movimentos sociais precisa continuar. 

Christovam Barcellos, Manuela Silva, Paulo Gadelha, Nisia Trindade e Luiz Augusto Galvão no intervalo de atividades da COP 28, em Dubai.
A partir da esquerda: Christovam Barcellos (Icict/Fiocruz), Manuela Silva (Biobanco Covid-19/Fiocruz), Paulo Gadelha (Agenda 2030/Fiocruz), Nísia Trindade (Ministra da Saúde) e Luiz Augusto Galvão (CEE/Fiocruz)

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Em entrevista ao site do Icict, Christovam Barcellos falou sobre a participação inédita da Fiocruz na COP e as expectativas para a próxima Conferência do Clima da ONU, a ser realizada na Amazônia, em 2025: 

Pela primeira vez a Fiocruz esteve representada em uma edição da COP. Qual é a importância disso?  

O setor de saúde é um dos mais prejudicados com as alterações climáticas. É quem paga a conta dos outros setores. A conta explode em despesas de saúde, crise alimentar, de doenças transmissíveis e respiratórias. Pela primeira vez na COP, o setor de saúde apresentou a conta também. Como ação efetiva, foi criado um Fundo de Perdas e Danos para recuperar os estragos causados pela crise climática. Por meio dele, tona-se obrigatório algum pagamento aos países periféricos, os mais prejudicados nesse contexto. Ainda é muito pouco, pois as contribuições são voluntárias e somam pouco mais de US$ 400 milhões de dólares. É muito pouco. Não soma nem um mês de orçamento do SUS.   

A COP vem sendo muito criticada por não propor ações efetivas. Como você vê essa afirmação?  

Algumas identidades entre países, África muito mobilizada e apresentando ideias diferentes para saúde, países do Pacífico também, que têm questões muito específicas com relação à crise climática. A COP segue importante por ser um encontro de países para trabalhar em conjunto. Mas precisamos avançar, é importante trabalharmos em diagnósticos locais. Cada país começa a fazer seu balanço para preparar sistema de saúde para próximos anos. Icict entra aí, ganha muito com isso. O que se vê na COP são boas intenções, muitos grupos de pressão, mas resoluções ainda bastante vagas. O banimento do petróleo era uma das intenções e acabou não acontecendo. Surgem muitas resoluções sem meta de como vai acontecer. E sem metas, raramente vira política.  

O próximo encontro será no Brasil, em 2025. Qual é a expectativa?   

Estamos com muita expectativa para a COP no Brasil. Acredito que haverá muita participação da sociedade civil, diferentemente do que presenciamos em Dubai. Penso que teremos uma cúpula mais popular, mais conectada às populações indígenas, aos negros e aos quilombolas. Haverá mais pressão social e, possivelmente, mais resultados. Outro ponto relevante é que será a primeira cúpula realizada na Amazônia, região que envolve vários países da América do Sul. É hora de discutir mais a Amazônia. Não apenas olhando para a preservação, mas pensando sobre o uso racional de recursos, precisamos transformar esses recursos em instrumento de cidadania, em contrapartida contra os danos que as mudanças climáticas estão causando. É hora de os países amazônicos se mobilizarem nesse sentido, de produzir bens e oportunidades para todos. 

📄 Para saber mais sobre a participação da Fiocruz na COP 28, leia aqui o artigo Cúpula Climática COP28: urgência para ação global com foco na equidade – considerações sobre saúde e papel do Brasil

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