Eronides saiu do Rio de Janeiro para defender os direitos das pessoas com anemia falciforme; Michely deixou o Paraná a fim de lutar pela população negra; Carlivan viajou do Maranhão com a tarefa de apoiar as demandas das pessoas com deficiência. O ponto de encontro dos três foi Brasília, mais especificamente a 15ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em dezembro de 2015. No mar de gente de todos os sotaques e bandeiras que se cruzam nos corredores de um evento dessa dimensão, o recém-lançado documentário “O que nos move”, do Selo Fiocruz Vídeo, destaca o vai-e-vem desses três delegados de modo a abordar a dinâmica por trás da aprovação de cada uma das recomendações do controle social para a saúde do Brasil.
A direção é da jornalista e documentarista Daniela Muzi, pesquisadora do campo da Comunicação e Saúde, para quem era preciso mudar o foco da cobertura das conferências, geralmente centrada na gravação das plenárias e entrevistas com delegados e autoridades. “Há claro predomínio dos discursos de personalidades do campo da saúde, especialistas, pesquisadores, gestores. Mas quem já participou ou acompanhou um evento como esse sabe que há muito além das plenárias e muitas vozes nem sempre ouvidas. Realizamos um documentário que mostra as expectativas, tensões, conflitos, os olhares, não olhares, as falas e momentos de silêncio para tentar descobrir ‘o que nos move’ em defesa do SUS”, conta.
A abordagem, segundo Daniela, surgiu a partir da leitura de uma reportagem da Radis, “Muito prazer, delegadas!” (edição 158). A repórter Ana Cláudia Peres acompanhou em outubro de 2015 a participação das delegadas Erika Arent, Ana Cristina Engstron e Norma Maria de Sousa na 7ª Conferência Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Outra referência foi o “cinema direto”, tradição cinematográfica em que o documentarista acompanha a ação sem influenciá-la.
A equipe da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz, composta ainda pelo diretor de fotografia Paulo Castiglioni Lara e pelo técnico de som Marcos Renkert, acompanhou um delegado a cada dia da 15ª, todos eles representantes dos usuários. Montagem e finalização couberam a Gislaine Lima. “O documentário segue a ordem cronológica dos acontecimentos pelo ponto de vista dos conselheiros de saúde, sem nenhuma entrevista, apenas seguindo o desenrolar da ação”, explica Daniela. Assim, sem roteiro definido, a diretora buscou “ser menos protagonista e mais coadjuvante” na narrativa.
Não escapa ao registro cinematográfico a atenção dada na 15ª ao processo de impeachment da presidenta reeleita em 2014, Dilma Rousseff. No terceiro dia do evento, o então presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, hoje preso por recebimento de propina, aceitou o pedido de impedimento protocolado por partidos da oposição a Dilma. “A 15ª entrou para história, pois além de ter sido uma das conferências mais populares depois da 8ª Conferência, não discutiu apenas a saúde da população, mas também a saúde da democracia”, avalia a documentarista.
Ao lado, leia entrevista [3] com a diretora, Daniela Muzi, e assista ao filme, na íntegra, no Canal da VideoSaúde Distribuidora. [4]
*Matéria publicada originalmente na edição 185 da Revista Radis. [5]
Links
[1] https://www.icict.fiocruz.br/../..
[2] https://www.icict.fiocruz.br/arquivo-de-noticias
[3] https://www.icict.fiocruz.br/node/4245
[4] https://www.youtube.com/watch?v=ociUUGBJRfA
[5] http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/185/reportagens/o-que-nos-move
[6] https://www.facebook.com/sharer.php?u=https%3A%2F%2Fwww.icict.fiocruz.br%2Fprint%2F4244
[7] https://www.icict.fiocruz.br/node/4075
[8] http://conselho.saude.gov.br/web_15cns/index.html