Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil - Dezembro 2023)
Cinquenta e três por cento (698) de 1.317 mulheres trans e travestis entrevistadas relatam ter sofrido algum tipo de violência sexual e, entre as vítimas, 64,4% (419) sofreram esse tipo de violência mais de uma vez. Além dos abusos, esse grupo é vítima de preconceito e tem dificuldade de acessar os serviços de saúde, problema que leva 72% das mulheres trans e travestis que utilizam hormônio a fazer isso sem prescrição médica. Esses são alguns resultados das pesquisas publicadas no suplemento especial da Revista Brasileira de Epidemiologia (Epidemio) [3], uma publicação da Abrasco - Associação Brasileira de Saúde Coletiva, sobre a saúde de mulheres trans e travestis extraídos do “Estudo TransOdara: o desafio de integrar métodos, contextos e procedimentos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil”.
A edição conta, no total, com 13 artigos científicos inéditos, que estão disponíveis para leitura em Acesso Aberto (Open Access) na plataforma SciELO. A edição especial da Epidemio foi pensada justamente para dar visibilidade, com estudos científicos, aos problemas que afetam essa população e, assim, orientar políticas e chamar a atenção das autoridades de saúde. Afinal, por ser marginalizado e carecer de políticas públicas, esse grupo, em situação de vulnerabilidade social, sofre com as mais diversas formas de violência, preconceito e risco ampliado para hepatites e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Os pesquisadores Maria Amélia de Sousa Mascena Veras, Inês Dourado, Francisco Inácio Bastos (pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde, do Icict/Fiocruz) e Thiago Félix Pinheiro, que organizaram a edição especial, destacam, no editorial, a importância da ciência ser utilizada para promover a justiça social: “Fazer pesquisa com a população trans, na perspectiva da justiça social e do direito universal à saúde , convoca à interlocução, com suas questões e reivindicações, bem como à efetivação dos resultados em intervenções concretas capazes de proporcionar avanços e respostas”, afirmam.
O estudo multicêntrico, transversal, realizado em cinco capitais das principais regiões brasileiras entre dezembro de 2019 e julho de 2021.
Fonte: Estudo TransOdara: o desafio de integrar métodos, contextos e procedimentos durante a pandemia de COVID-19 no Brasil
A publicação pode ser acessada aqui [3] ou pelo link: https://tinyurl.com/epidemio-estudo-transodara [4]
Objetivo: As infecções sexualmente transmissíveis (IST) afetam desproporcionalmente as mulheres trans e travestis (MTT), que muitas vezes não têm acesso a cuidados de saúde devido ao estigma e à discriminação. Descrevemos a abordagem e a metodologia de um estudo que investigou a prevalência de sífilis, HIV, hepatite A, B e C, Neisseria gonorrhoeae (NG), Chlamydia trachomatis (CT) e papilomavírus humano (HPV) entre as MTT, bem como seu conhecimento e percepção sobre a sífilis, para melhor as políticas para redução de IST nessa população vulnerável.
Métodos: TransOdara foi um estudo multicêntrico, transversal, realizado em cinco capitais das principais regiões brasileiras entre dezembro de 2019 e julho de 2021. Mulheres autoidentificadas como mulheres trans ou travestis, com idade >18 anos, foram recrutadas usando respondent-driven sampling, após uma fase de pesquisa formativa. Responderam a um questionário conduzido por entrevistadoras. Foi oferecida consulta médica, com exame físico, e solicitou-se que fornecessem amostras de vários locais para detectar as IST citadas. Quando indicado e consentido, foram iniciadas a vacinação e o tratamento.
Resultados: Foram recrutadas 1.317 participantes nos cinco locais de estudo: Campo Grande (n=181, 13,7%), Manaus (n=340, 25,8%), Porto Alegre (n=192, 14,6%), Salvador (n= =201, 15,3%) e São Paulo (n=403, 30,6%). O período de recrutamento variou em cada local em razão de restrições logísticas impostas pela pandemia de COVID-19.
Conclusão: Apesar dos enormes desafios colocados pela ocorrência simultânea da pandemia da Covid-19 e do trabalho de campo dirigido a uma população vulnerabilizada e dispersa, o projeto TransOdara foi eficazmente implementado. As adversidades não impediram que mais de 1.300 mulheres trans e travestis tenham sido entrevistadas e testadas em meio a uma epidemia de tal magnitude que perturbou os serviços de saúde e os projetos de pesquisa no Brasil e no mundo.
Links
[1] https://www.icict.fiocruz.br/../..
[2] https://www.icict.fiocruz.br/arquivo-de-noticias
[3] https://www.scielo.br/j/rbepid/i/2024.v27suppl1/
[4] https://tinyurl.com/epidemio-estudo-transodara
[5] https://www.facebook.com/sharer.php?u=https%3A%2F%2Fwww.icict.fiocruz.br%2Fprint%2F8460
[6] https://www.icict.fiocruz.br/node/8120
[7] https://www.icict.fiocruz.br/node/80
[8] https://abrasco.org.br/
[9] https://ppgics.icict.fiocruz.br/teses-ou-disserta%C3%A7%C3%B5es/transver-o-mundo%E2%80%99-o-dia-nacional-da-visibilidade-trans-pela-%C3%B3tica-de-pessoas