">
Você sabia que nos estudos ecológicos, a associação entre fatores ambientais ou socioeconômicos e determinantes de leptospirose, por exemplo, pode ser influenciada pela escala geográfica?
A descoberta foi feita por um grupo de pesquisadores da Fiocruz - Renata Gracie, Christovam Barcellos e Mônica Magalhães, do Laboratório de Informação em Saúde (Lis), do Icict, e Reinaldo Souza-Santos e Paulo Barrocas, ambos da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), que analisaram os dados do número de casos de leptospirose (doença causada principalmente pela urina do rato contaminada) no Brasil, no período de 1999-2011, com a utilização da escala geográfica. No início deste período, houve em média 2.987 casos/ano, que contrastava com as 3.942 ocorrências anuais para este mesmo intervalo de tempo, apontando um crescimento de mais de 24% dos casos e indicando uma taxa de mortalidade de 10%.
Os pesquisadores constataram que os resultados de fatores de risco para leptospirose eram influenciados pelo período (endêmicos ou epidêmicos), pelo meio ambiente (se rural ou urbano) e pela escala geográfica (global, regional e local). Renata Gracie, autora do artigo, acredita que “esta foi a primeira vez que se analisou o tema com enfoque para a leptospirose” e que alunos de pós-graduação de outros municípios, como o de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, após a publicação da dissertação da pesquisadora do Lis, que deu origem ao artigo - Geographical Scale Effects on the Analysis of Leptospirosis Determinants (acesse ao lado, o artigo em inglês) - no International Journal of Environmental Research and Public Health, passaram a utilizar a metodologia aplicada pela pesquisadora. “Muitos estudos que avaliam risco de forma espacial utilizavam a metodologia de sobreposição ponderada, mas nem sempre se preocupavam com a escala geográfica também com o objetivo de diagnosticar risco à ocorrência de algum agravo”, explica. Segundo a pesquisadora, “A pesquisa em diferentes unidades de análise já havia sido feita em alguns trabalhos, mostrando taxas de incidência por bairro e distrito sanitário em Recife (Pernambuco). Creio que fazendo testes de correlação com outros indicadores além dos da saúde, ainda não”, acrescenta. O estudo foi realizado tomando por base os dados de Jacarepaguá, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Renata Gracie explica, na entrevista abaixo, como foi a utilização da metodologia e o impacto nas escolhas de indicadores mais adequados para diagnóstico de risco à ocorrência de leptospirose.
Inicialmente, foi feita uma lista de indicadores socioeconômicos e ambientais importantes para diagnosticar as áreas de risco para a leptospirose a partir de consultas em artigos. Foram escolhidos os que haviam possibilidade de cálculo para as três escalas escolhidas (Estado do Rio de Janeiro/municípios; Município do Rio de Janeiro /bairros e Região Administrativa de Jacarepaguá/setores censitários).
Depois de algumas operações geográficas, foram calculados os indicadores socioeconômicos e ambientais e de saúde (taxa de incidência) para as três escalas, nas respectivas unidades de análise (que podem ser vistas na Tabela 1 do artigo). Em seguida, foram feitos testes estatísticos para identificar quais os indicadores socioeconômicos e ambientais tiveram maiores correlações significativas com a taxa de incidência de leptospirose no período endêmico e epidêmico.
A forma de cálculo das taxas de incidência é a mesma. A diferença que estou ressaltando é que devemos ter critérios para escolher estes indicadores, pois dependendo da escala utilizada, uns são mais adequados que outros.
Não. O artigo é para chamar a atenção de outros pesquisadores e, principalmente, dos gestores que tomam decisões baseadas em diagnóstico de situação de risco à saúde, que a escala de análise tem influência importante nas análises espaciais para detecção de risco.
Porque quando escolhemos a escala de análise, estamos escolhendo também o que iremos ou não enxergar em nossa pesquisa, e por isso os indicadores utilizados em cada escala devem ser adequados a cada escala geográfica. O que fiz foi tentar apontar alguns indicadores em cada escala, utilizando metodologias de geoprocessamento e alguns testes estatísticos. Eu prefiro dizer que as pesquisas podem ter indicadores mais adequados para as suas análises.
Divisor de águas é uma expressão forte. O objetivo deste trabalho foi sensibilizar os pesquisadores e gestores para escolhas de indicadores de uma forma mais consciente e, entendendo, que a escala e as unidades de análise devem ser levadas em consideração.
Sim, pretendo. Mas, antes de continuar este estudo, vou concluir meu doutorado. E antes de escolher uma outra doença relacionada a água, tentarei alguma que tenha uma ecologia de transmissão bem diferente, como tuberculose, HIV, Leishmaniose...
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668
Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.
O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.
Comentários
Claudio Rodrigues
ter, 27/01/2015 - 15:41
Artigo
Parabéns Renata, Christovam e demais amigos do LIS pelo artigo. Muito importante para uma visão ampliada da saúde, especialmente no que diz respeito à Leptospirose.
Luiz Antonio Torga
seg, 26/01/2015 - 09:23
Leptospirose
Muito orgulhoso contar com pesquisadores tão jovens já com esse tipo de preocupação. Me fez entender que nosso País não está tão mal assim, pois temos jovens que se preocupam conosco. Cuidado govêrno vamos observar, pois daqui a pouco eles estarão fóra do Brasil, pois aqui um jogador de futebol tem mais valor que uma cientista. por favor Renata, Cristóvão e Mônica não nos deixem. parabéns.
Comentar