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Era para ser um debate entre a coordenadora da pesquisa Nascer no Brasil, Maria do Carmo Leal (Ensp/Fiocruz), e a publicitária e documentarista Bia Fioretti, diretora e produtora da série em DVD homônima. Mas após a exibição do vídeo "Nascer no Brasil: Parto, da violência obstétrica às boas práticas", a dor e a lembrança de violências sofridas, até então ignoradas, deu voz a inúmeras mulheres da plateia. Como em um filme de Woody Allen, em que ficção e vida real se misturam, o público viu suas histórias de vida espelhadas na tela e nas falas das personagens do filme, dando início a uma rica e emocionante troca de experiências. Com o debate, uma iniciativa do Centro de Estudos do Icict e do Núcleo de Estudos do Audiovisual em Saúde da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz, o Icict encerrou a série de eventos e seminários acadêmicos realizados ao longo de 2014.
"Nascer no Brasil: Parto, da violência obstétrica às boas práticas", um dos dois vídeos da série produzida pela VideoSaúde e dirigida por Bia Fioretti, narra a história de mulheres que sofreram a dor do parto causada por práticas obstétricas consideradas de risco pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas que ainda são aplicadas na maioria dos hospitias públicos e privados no Brasil. Vítimas da violência obstétrica, fruto ainda de uma sociedade machista, as mulheres desconhecem que têm direito a um parto humanizado e a boas práticas de assistência no pré-natal, parto e pós-parto.
Agressões verbais à mãe (para que não grite ao parir), recusa de atendimento, privação de acompanhante, lavagem intestinal, raspagem dos pelos, jejum, episiotomia (corte entre o ânus e a vagina para facilitar a saída do bebê), intervenções com cateter venoso ou farmacológicas para aliviar a dor, e separação de mãe e bebê saudável após o nascimento estão entre os itens da lista de violências obstétricas.
Em setembro último, a OMS publicou em seis idiomas uma declaração contra a violência obstétrica: "No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado respeitoso, mas também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não-discriminação. Esta declaração convoca maior ação, diálogo, pesquisa e mobilização sobre este importante tema de saúde pública e direitos humanos", diz a abertura documento "Prevenção e eliminação de abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde".
Este ano, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo também publicou a cartilha Violência obstétrica: você sabe o que é?, na qual alerta para o fato de que o Brasil é campeão em cesarianas no mundo, fato corroborado pela pesquisa Nascer no Brasil.
"No país, 80% dos partos são feitos no setor público e 20% no setor suplementar, sendo que 52% são cesarianas, a maioria - 88% - no setor privado", explicou Maria do Carmo Leal, citando números da pesquisa. Segundo a pesquisadora, a cesariana aumenta o risco de morbidade respiratória e de internação, além de ocorrência de hemorragia e mesmo de óbito materno. Entre os bebês nascidos por cesariana, há maior ocorrência de síndrome metabólica, asma, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doença cardiovascular e obesidade.
Entre inúmeras abordagens, a pesquisa Nascer no Brasil comparou um hospital privado de uma cidade do interior da região sudeste, com um grupo de hospitais privados da mesa região que adotam o modelo típico de atenção obstétrica do setor privado. O modelo inovador oferecia assistência ao parto normal por equipes compostas por enfermeiras obstétricas e médicos; priorização de enfermeiras obstétricas na atenção ao parto vaginal; oferta de recursos não farmacológicos para suporte ao trabalho de parto; auditoria das indicações de cesarianas e título de Hospital Amigo da Criança. "Já estamos observando uma tendência de mudança nas operadoras de saúde em favor do parto humanizado", afirmou Maria do Carmo.
"Vivi os maus partos no sistema privado. Há uns anos comecei um projeto chamado Mães da Pátria, com parteiras, e descobri que as mulheres cuidadas por parteiras não tinham problemas. Por isso é recomendado que a enfermeira obstétrica seja o profissional eleito para assistir o parto normal, que a mulher não dependa de um único médico", comentou Bia Fioretti. Emocionada, a produtora da série, que abandonou uma vida profissional como publicitária em grandes empresas privadas, falou sobre o desafio de realizar mais de 170 entrevistas em todas as regiões do país para a produção da série, muitas acessíveis apenas por embarcação, e do aprendizado no contato com tantas histórias de vida.
O debate foi mediado por Gabriella Dias, pedagoga, especialista em tecnologias educadionais e membro do conselho curador do Selo Fiocruz Vídeo. Abriram o debate a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Nísia Trindade, e Umberto Trigueiros, diretor do Icict.
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Comentários
Regina Melo
seg, 29/12/2014 - 16:40
Aquisição do DVD
Sou enfermeira e acabei de receber a Radis. Fiquei maravilhada com o texto sobre o lançamento do DVD. Gostaria muito de adquirir esta importante pesquisa para trabalhar no Grupo de Atenção à Mãe Adolescente - GAMA, trabalho desenvolvido quinzenalmente com as gestantes adolescentes no Centro de Assistência ao Adolescente de Resende - CAAR. Parabéns a equipe de pesquisa, produção e a Radis. Meu e-mail: regina.mario.melo@gmail.com Regina Melo
Regina Melo
seg, 29/12/2014 - 16:20
Aquisição do DVD
Sou enfermeira e acabei de receber a Radis. Fiquei maravilhada com o texto sobre o lançamento do DVD. Gostaria muito de adquirir esta importante pesquisa para trabalhar no Grupo de Atenção à Mãe Adolescente - GAMA, trabalho desenvolvido quinzenalmente com as gestantes adolescentes no Centro de Assistência ao Adolescente de Resende - CAAR. Parabéns a equipe de pesquisa, produção e a Radis. Regina Melo
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