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Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que até 2030, “as consequências das mudanças climáticas provocarão gastos com saúde de até US$ 4 bilhões por ano”. Além disso, mais de 250 mil mortes por ano estão previstas entre 2030 e 2050, devido a desnutrição, malária, diarreia e estresse provocado pelo calor intenso, agravados por problemas de infraestrutura como falta de saneamento básico, desabastecimento e não tratamento da água, por exemplo.
Em um evento - Diálogos Estratégicos sobre Mudanças Climáticas – que reuniu representantes da OMS, Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Fiocruz, Ministério da Saúde, ONU Mulheres e ONU Meio Ambiente, no início de dezembro de 2017, a oficial sênior da ONU Meio Ambiente, Regina Cavini, alertou que esses problemas “agravam os desdobramentos das transformações do clima e seus impactos sobre a saúde, a exemplo do que ocorreu com as recentes epidemias de dengue, zika e chikungunya”.
Diante de números tão alarmantes, o papel do Observatório Nacional do Clima e Saúde, do Laboratório de Informação e Saúde (LIS), do Icict/Fiocruz, torna-se crucial e foi reconhecido tanto na COP23, como pela UNESCO e OMS. Lançado em 2008, o Observatório tem parcerias com o Datasus, IBGE, Ibama, Ministério do Meio Ambiente, secretarias estaduais e municipais de Saúde, e instituições de ensino federais e estaduais, além de integrar a Rede Brasileira de Pesquisas Sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)/Ministério da Ciência e Tecnologia.
Durante a COP23 – a 23ª Conferência do Clima das Nações Unidas (03/11 a 18/11), o Centre for Enviroment Education (CEE), da Nehru Foundation for Development, da Índia, lançou – em parceria com a UNFCCC ((United Nations Framework Convention on Climate Change) e a Unesco a publicação “Good Practice in Action for Climate Empowerment - A compilation and analysis of case studies”, que destaca o papel da educação e empoderamento da sociedade civil no apoio à redução e à adaptação aos impactos da mudança climática, apresentando estudos de caso de diversos países. O Brasil está lá representado pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde, do Laboratório de Informação e Saúde (LIS), do Icict/Fiocruz.
A experiência brasileira selecionada foi a do sítio sentinela de Manaus (Amazonas), que mostra a correlação entre eventos climáticos extremos e doenças transmitidas pela água na capital do Amazonas, que é banhada pelos rios Negro e Solimões. Os dados analisados indicam que o nível da água dos rios e as chuvas intensas afetam o número de casos de leptospirose na região.
O sítio de Manaus também foi objeto de estudo publicado no relatório “Climate Services for Health – Improving public health decision-making in a new climate”, produzido pela Organização Mundial de Meteorologia (da sigla em inglês WMO) e a OMS. Neste caso, o Observatório é citado duas vezes como experiência exitosa: como plataforma de acesso a informações que permitam criar alertas para as doenças trazidas pelas enchentes em Manaus, e como colaborador no estudo preditivo dos riscos de uma epidemia de dengue durante a Copa do Mundo de Futebol ocorrida no Brasil em 2014.
Para Christovam Barcellos, coordenador do Observatório e vice-diretor de Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento Tecnológico, do Icict, estas publicações “representam um reconhecimento do Observatório como promotor do debate sobre as mudanças climáticas e seus impactos sobre a saúde”, afirma. Ele também destaca que o pioneirismo do projeto: “ao que parece este tipo de iniciativa é inédita no mundo e tem despertado o interesse de agências internacionais”. Partindo dessa premissa, o site do Observatório Nacional de Clima e Saúde está sendo reformulado. Segundo Barcellos, “temos uma perspectiva de tradução do nosso site para o inglês e o espanhol, o que vai ampliar em muito o público que busca informações sobre clima e saúde”.
O site do Icict ouviu Kartikeya Sarabhai, diretor do CEE. Ele falou sobre a Educação como instrumento para mitigar os efeitos do impacto das ações climáticas, o trabalho desenvolvido pelo CEE e a importância do que é feito pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde:
Como foi a recepção do lançamento da publicação durante a COP23?
O relatório foi lançado no Dia da Educação na COP23 – 16 de novembro de 2017. A cópia do relatório já está no site do CEE e brevemente estará disponível também no site da UNFCC. Depois do lançamento, tivemos várias discussões e recebemos o retorno de que a publicação ajuda aos gestores verem o valor da educação nas ações para a mitigação e adaptação climáticas.
As pessoas interessadas em educação ambiental e aquelas que lidam com os focos de ação de empoderamento do clima (da sigla em inglês ACE) também podem acessar a compilação dos 17 estudos de caso, que provam como a educação pode ter um papel crucial, conduzindo a ação de clima e como a implementação de componentes dos focos de ação de empoderamento da sociedade para a mudança climática pode ser ampliada.
A publicação ajuda a criar a compreensão de nossa sugestão em incluir a educação nos planos nacionais sobre o clima nas NDCs (sigla em inglês para contribuições nacionalmente determinadas), que os países preparam a cada cinco anos, a partir do Acordo de Paris. Os exemplos práticos ajudam a dar clareza do porquê a educação é importante para projetos de clima que dão certo.
Por que o Observatório Clima e Saúde foi escolhido para tomar parte da compilação?
Nossos principais critérios de seleção dos estudos de caso era um componente forte de educação e consciência pública no núcleo do projeto em ações para adaptação e mitigação às mudanças climáticas. O Observatório de Clima e Saúde foi identificado como um dos estudos de caso onde as pessoas são informadas e tornam-se conscientes sobre as mudanças climáticas e seus efeitos na saúde, relacionadas à região onde vivem. O site do Observatório é interativo e, nele, a população pode acessar os dados e também incluir informações. Além disso, é um projeto onde a pesquisa científica foi passada às pessoas para aumentar a habilidade deles/delas para se adaptarem aos impactos de saúde da mudança de clima.
Qual a importância da Educação no suporte à redução das mudanças climáticas e a adaptação a elas?
Junto com o crescimento da consciência e a informação pública para promover a mudança de comportamento e nas circunstâncias locais variáveis para a ação climática, a educação pode capacitar as comunidades de forma positiva e duradoura para a mitigação ou atividades de adaptação às mudanças climáticas e seus efeitos. Estas ações também apoiariam os esforços para todas as áreas durante anos e décadas, reduzindo os riscos de arruinar o desenvolvimento sustentável. Consequentemente, a adaptação e a educação para a mitigação podem ter um papel vital nas ações climáticas, num esforço para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da Agenda 2030.
Há alguma possibilidade de parceria entre o CEE e o Observatório de Clima e Saúde?
Sim, uma parceria entre o CEE e o Observatório de Clima e Saúde seria muito boa. Tal parceria conduziria ao desenvolvimento de uma estratégia de comunicação e material de educação focando na adaptação das implicações das mudanças climáticas sobre a saúde, como também em outros tópicos.
Esta matéria abre a série “Clima e Saúde”, enfocando as mudanças climáticas e seus efeitos na saúde do brasileiro, a partir dos estudos realizados pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde, do Icict, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nas próximas matérias, alguns sítios sentinelas do Observatório – como o de Porto Velho (Rondônia), que aborda a questão das queimadas na região amazônica e seus efeitos na população local; o das Fronteiras, que está analisando a predominância da malária entre as divisas do Brasil e da Guiana Francesa; e, por fim, o do Semiárido, que mostra alguns resultados do impacto da seca prolongada na região.
Observatório Clima e Saúde ganha destaque em publicações na OMS e na COP23
Entre o pulmão verde e a fumaça das queimadas
Sítio sentinela transfronteiriço no combate à malária
Semiárido: saúde é o caminho para o desenvolvimento sustentável
Banners e reedição do infográfico “Whether you live in a...”, da OMS: Vera Fernandes (Ascom/Icict/Fiocruz)
Versão do infográfico "Whether you live in a...", da OMS: Graça Portela (Ascom/Icict/Fiocruz)
Colaboração: Christovam Barcellos (Vice-diretor de Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento Tecnológico/Icict/Fiocruz)
Vídeo: “IPCC: Mudança climática afeta várias partes do Brasil” – ONU Brasil
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
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Comentários
Anônimo
qua, 10/01/2018 - 19:10
Os dados apresentados são
Os dados apresentados são alarmantes e preocupantes. Fico imaginando na previsão desse impacto para a população que já vive num clima de intenso calor como o Piaui. Aqui, o índice de câncer de pela já é preocupante. Que bom essa série “Clima e Saúde” com foco nas mudanças climáticas realizadas pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde, do Icict! Obrigada Graça pelo compartilhamento desta importante publicação! AbraSUS! Emília
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