Pesquisa analisa a comunicação na prevenção da dengue

por
Rafael Vinícius
,
10/10/2008

A pesquisa “Avaliação da Comunicação na Prevenção da Dengue” estudou a comunicação relacionada à prevenção epidemiológica da doença, através da análise de jornais impressos, telejornais e entrevistas. O projeto pesquisou do fim de 2003 ao fim de 2007, como a mídia em geral e as instituições de saúde abordam o assunto, além de explorar o modo que a sociedade se apropria das informações (tripé metodológico). “Partindo do pressuposto de que as pessoas contextualizam tudo o que recebem, nós queríamos saber como a população se apropria da informação veiculada nos meios de comunicação”, explica a pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), Inesita Soares de Araújo.

A grande magnitude do problema levou a criação do projeto, que nasceu para desenvolver inovações tecnológicas em processos e produtos no campo da comunicação e da saúde, com atenção especial para a prevenção da dengue e controle do Aedes egypti. Avaliar a prática comunicativa dos veículos de comunicação, com vistas à implantação de um observatório de mídia sobre o tema da saúde e testar um método de avaliação da comunicação são alguns dos principais objetivos da pesquisa. A última epidemia no Estado do Rio de Janeiro teve mais de 40 mil casos registrados apenas nos três primeiros meses de 2008, com destaque para a grande incidência de ocorrências na cidade do Rio de Janeiro (28.233).

“Nós registramos durante quatro anos tudo o que era relacionado à dengue nos órgãos monitorados (Extra, O Dia e telejornais da Rede Globo). Fizemos informativos e debates com editores de jornais para saber os critérios que eles utilizavam para tratar a saúde”, destaca Inesita. A pesquisadora ainda afirmou que os órgãos de saúde (Secretarias Estadual e Municipal de Saúde e Ministério da Saúde) e a mídia fazem abordagens normativas que não dão voz ao povo.

Por outro lado, os materiais institucionais e as matérias na mídia abordam a dengue como algo isolado. Em contrapartida, a população percebe a doença no conjunto das conseqüências das precárias condições de vida e as demandas acabam sendo mais abrangentes, como saneamento básico e coleta de lixo. “A pesquisa evidenciou que a noção de determinantes sociais da saúde (renda, educação, condições de habitação, saneamento, meio ambiente, trabalho e transporte) ainda não permeou a comunicação o suficiente para que seja incorporada nas suas estratégias de prevenção epidemiológica”, afirma a pesquisadora.

O estudo concluiu que a população sabe o que deve fazer para controlar a proliferação do mosquito. No entanto, a adoção de alguma medida recomendada pelos materiais analisados ocorre em geral quando alguma pessoa tem alguma experiência particular com a doença.  As principais fontes de informação sobre a prevenção da dengue identificadas foram a TV (Rede Globo, principalmente), o posto de saúde, o agente comunitário, a escola e a vizinhança.

De acordo com Inesita, a intenção é avaliar a comunicação de forma mais profunda através de um método considerado inovador, que analisa de forma articulada a comunicação midiática, a comunicação institucional e a interpretação da população. “Um relatório da pesquisa será divulgado até o fim do ano”, destaca a pesquisadora.

A prevenção da doença, que ainda não tem uma vacina eficaz e segura, é feita através do combate ao vetor e da vigilância epidemiológica, que deve compreender tanto a notificação de casos clínicos como a busca ativa do Aedes aegypti. Para o controle do vetor, a participação da comunidade é extremamente importante na erradicação dos locais que sirvam como criadouros do mosquito.

No início da década de 1950, a dengue tornou-se uma causa importante de morbidade e mortalidade após a ocorrência de algumas epidemias com crianças no Sudeste Asiático. Já na década de 1980, o problema aumentou com epidemias no Brasil, na Bolívia, no Paraguai, no Equador e no Peru e, em fins de 1981, houve o primeiro surto da doença em que houve isolamento viral no país. O tratamento é sintomático, e visa o controle da febre, dos vômitos e da desidratação que advém do quadro clínico.

 

Comentar

Preencha caso queira receber a resposta por e-mail.

Assuntos relacionados

A saúde na mídia – observatório pesquisa comunicação sobre a dengue

Observatório de Mídia sobre Saúde acaba de lançar a edição inaugural do seu boletim informativo.

Epidemia de dengue sob o olhar do Jornal Nacional é tema de pesquisa

Janine Cardoso aborda o tema avaliando a abordagem do principal telejornal do País

Mudanças climáticas aumentam casos de dengue no país

Cristovam Barcellos, coordenador do Observatório Clima e Saúde, faz o alerta em matéria do jornal Correio Braziliense

Engajamento comunitário e pesquisa em saúde: por uma agenda de pesquisa para o controle da dengue

Combate ao vetor da dengue, para o qual o país é hoje considerado hiperendêmico.

Observatório Saúde na Mídia

Criado em 2008, seu objetivo principal é realizar análises sobre os modos pelos quais os meios de comunicação de massa produzem sentidos sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e os temas específicos da saúde, bem como contribuir para a luta pela democratização da comunicação na sociedade em geral e, na saúde, em particular.

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz)
Av. Brasil, 4.365 - Pavilhão Haity Moussatché - Manguinhos, Rio de Janeiro
CEP: 21040-900 | Tel.: (+55 21) 3865-3131 | Fax.: (+55 21) 2270-2668

Este site é regido pela Política de Acesso Aberto ao Conhecimento, que busca garantir à sociedade o acesso gratuito, público e aberto ao conteúdo integral de toda obra intelectual produzida pela Fiocruz.

O conteúdo deste portal pode ser utilizado para todos os fins não comerciais, respeitados e reservados os direitos morais dos autores.

Logo acesso Aberto 10 anos logo todo somos SUS