Trabalho baseado na importância da memória concede prêmio a pesquisadora do Icict

por
Rafael Vinícius
,
03/12/2008

A pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), Kátia Lerner, conquistou o segundo lugar da primeira edição do prêmio Mário de Andrade com a tese de doutorado “Holocausto, memória e identidade social: a experiência da Fundação Shoah”. O prêmio, que possui a temática “Museus, memória social e patrimônio cultural”, é uma iniciativa do departamento de museus do Instituto do Patrimônio Histórico-Artístico Nacional (Iphan), em parceira com a Associação Brasileira de Antropologia (ABA). A premiação foi de caráter nacional, com a disputa de teses abrangendo 60 trabalhos enviados por todo o país. A chefe do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces) teve o seu trabalho classificado entre os três melhores nas categorias de mestrado e doutorado e recebeu o prêmio em outubro de 2008 no encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais.

A tese premiada foi fundamentada por um trabalho realizado a partir de uma experiência de pesquisa que Kátia Lerner desenvolveu há alguns anos com a Fundação da História Visual dos Sobreviventes da Shoah (holocausto em hebraico). “Esta Fundação é uma organização norte-americana criada na década de 1990 pelo cineasta Steven Spielberg. Ela se dedica a gravar depoimentos de pessoas que sobreviveram às perseguições da política nazista durante a Segunda Guerra Mundial”, explicou a pesquisadora. De acordo com Kátia, além dos sobreviventes das perseguições da 2ª Guerra Mundial (seis milhões de judeus morreram no conflito); ciganos prisioneiros políticos, testemunhas de Jeová e homossexuais foram outras minorias observadas no trabalho. O foco do estudo era entender os processos de construção social da memória do Holocausto e saber como se constrói narrativas sobre o passado.

A pesquisadora ainda detalhou como foi feito o trabalho no país. De acordo com Kátia, havia dois escritórios no Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) e a coordenação nacional era na capital paulista, onde 350 pessoas foram entrevistadas. No Rio, a pesquisadora coordenou uma equipe que entrevistou 150 pessoas. “Pensar nos processos da memória e no valor do passado é de extrema importância”, pontuou Kátia. De acordo com a pesquisadora, a representação mais exata do Holocausto são os sobreviventes, pessoas que demandam profundo respeito e sobriedade. 

“Eu coordenei os trabalhos dessa organização no Rio de Janeiro. Nós fizemos quase 600 entrevistas em todo o Brasil. Decidi, então, transformar essa experiência em minha tese de doutorado”, salientou a pesquisadora. Uma das questões que Kátia trabalhou foi a construção das relações entre a memória e os meios de comunicação de massa e, de acordo com a pesquisadora, a Fundação Shoah foi marcada pela forte presença desses meios. Este aspecto pode ser observado em diversas esferas, tanto na sua origem (cujo nascimento foi deflagrado pela realização de um filme), passando pela a sua linguagem (gravada em vídeo), como nos seus produtos (documentários, CD-ROM, exibições on-line, entre outros) feitos a partir das entrevistas.

“Ganhar o prêmio é importante porque ele dará maior visibilidade ao trabalho que eu desenvolvi. Eu transformei a minha experiência no meu objeto da tese de doutorado”, explicou a pesquisadora, que compara no seu trabalho a atuação da Fundação Shoah, com outras experiências de memória. “Usei como contraste a experiência do (Re)Generations, uma iniciativa do Museu Nacional Japonês-Americano, que usa meios de comunicação (vídeos e entrevistas) para falar do passado”, destacou Kátia.

A Fundação Shoah durante muito tempo foi uma organização autônoma, mas desde 2006 ela foi incorporada pela Universidade do Sul da Califórnia. Com isso, ela virou Instituto Fundação Shoah da História Visual e da Educação. Um dos objetivos atuais do Instituto é trazer esse arquivo para os lugares onde eles foram coletados e dar visibilidade para ele, tornando disponível a consulta nos meios acadêmicos. “Há nisso uma aposta na dimensão universal que esses temas suscitam. Trata-se de falar do passado para, entre outras coisas, problematizar o presente”, pontuou a pesquisadora.

Kátia Lerner, com a construção do acervo Projeto Memória do Ensino do Icict, ainda adota a memória como objeto de estudo e reflexão. A pesquisadora tem o objetivo de recuperar a história das atividades de ensino do Icict e mapear suas redes de conhecimento. “Compreender melhor a trajetória do ensino na unidade é fundamental, pois nos ajudará a avaliar o que foi feito e nos trará maiores subsídios para planejar os projetos que queremos desenvolver no futuro”, concluiu Kátia.

 

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