Documentário gera debate sobre comunicação, saúde e agroecologia

por
Graça Portela
,
13/03/2014

Com uma plateia majoritamente feminina, foi exibido na terça-feira, 11/03, no auditório do Museu da Vida, o documentário “A saúde está entre nós”, uma produção da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), VideoSaúde - Distribuidora da Fiocruz e Canal Saúde. O vídeo de 19 minutos é o primeiro episódio da série “Curta Agroecologia” e aborda o uso popular, e no SUS, das plantas medicinais e de fitoterápicos, destacando também as redes sociais de apoio. 

Na abertura, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VAAPS/Fiocruz), Valcler Rangel, afirmou que “a agroecologia é uma discussão que deve ser trazida para o campo da saúde. Assumimos essa tarefa de promover a aliança entre movimentos sociais vinculados à agroecologia e a área de pesquisa, ensino e produção, e buscamos estimular o diálogo, disseminar conhecimentos e alavancar lutas. O vídeo colabora muito para o conhecimento de alternativas saudáveis em produção de alimentos”.

Após a exibição, foi aberta uma roda de conversa com o tema “Comunicação, Informação e Agroecologia” que contou com a participação de Tiago Carvalho, diretor do documentário; Guilherme Franco, da VPAAPS/Fiocruz; Inesita Soares de Araújo, pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces/Icict); Natalia Almeida Souza, representante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA); Diamara Lima, representante da Rede FitoVida e Vilma Reis, jornalista da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Inesita Soares de Araújo levantou questões sobre historicidade, poder simbólico e contexto. Segundo ela, “a comunicação tem tudo a ver com poder simbólico, porque através de alguma forma de comunicação se disputa a possiblidade de fazer os outros verem e crerem naquilo a gente crê”. Para explicar esse conceito, que seria o poder de constituir a realidade, Inesita afirmou: “se pensarmos que a realidade só se mostra a nós através do modo pelo qual a olhamos, de modo como é apreendida, então podemos entender que quem consegue fazer com que os outros vejam a realidade como ele vê detém o poder simbólico, o mais forte de todos os poderes. É por ele que se consegue ver e mudar a realidade.”

Respondendo a uma pergunta da plateia sobre as dificuldades em realizar o documentário, Tiago Carvalho a explicou que “fazer o filme, tecnicamente falando, é bem mais fácil”. Segundo ele, “o grande desafio é fazer as ideias e imagens circularem em novos campos, em novos ambientes, e aumentar o alcance desse poder simbólico ao qual Inesita se referiu”.

A representante da Rede FitoVida, Diamara Lima, que se identificou como “Agente de Conhecimento Tradicional”, ou seja, quem colhe os conhecimentos de outras pessoas e os transmite para tantas outras, buscando, por meio da cultura, manter viva a história, a cultura e a sabedoria dos cidadãos, falou de sua forma de trabalho, “em ciranda, com todos olhando nos olhos”, enfatizando a questão do olhar na comunicação, e explicou: “a comunicação não é só fala; é expressão, é sentimento”. Ao falar do trabalho na Rede, ela explicou que o trabalho da instituição é o de sistematização do conhecimento: “Tudo o que aprendemos, passamos, pois se não fizermos isso o projeto da Rede não vai continuar, vai morrer conosco. O conhecimento não é meu, é da humanidade”, afirmou.

A jornalista Vilma Reis falou do envolvimento da Abrasco na discussão da agroecologia, afirmando que o assunto permeia vários outros temas como saúde da mulher, saúde do índio, ambiente, epidemiologia, ciências sociais e humanas em saúde, e lembrou que a Associação enviou a documentação para o procurador geral da República, Rodrigo Janot, sobre a questão dos agrotóxicos e que aguardam ainda resposta. Ela ressaltou que a Comunicação da Abrasco “tenta ouvir, entender e colocar, para diversos públicos, de rádios comunitárias da Amazônia a pesquisadores e jornalistas da Fiocruz, que temos que colocar as práticas de comunicação em prol dos assuntos que a Abrasco movimenta.”

A representante da ANA, Natália Almeida Souza, falou da atuação da Associação e explicou a importância da comunicação e sobre como o tema entrará no III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que será realizado de 16 a 19/05, em Juazeiro, na Bahia. “O desafio é como dialogamos com a sociedade, como fortalecemos essa luta que teve um ganho muito grande com o debate sobre os orgânicos”, explicou. Ela falou que há dois anos a ANA, inspirada no trabalho desenvolvido pela Associação do Semiárido (ASA), começou a pensar em “como a comunicação deixa de ser instrumental e passa a ser um processo mobilizador”. 

Já o representante da VPAAPS, Guilherme Franco, explicou a participação da Fiocruz na luta contra o abuso da utilização dos agrotóxicos, citando a Carta Aberta que foi divulgada pela Fundação e ressaltou a necessidade da Fiocruz “ter uma plataforma um pouco mais avançada para estabelecer cooperações na área (da agroecologia), identificando novos atores e parceiros.”

O documentário está disponível na internet para visualização e download. Basta acessar o Canal da Articulação Nacional de Agroecologia. Para cópias em DVD, entrar em contato com a VideoSaúde - Distribuidora da Fiocruz pelo e-mail videosaude@icict.fiocruz.br, ou pelos telefones (21) 2290-4745 e 3882-9109.

Foto: Mariana Lemle / VPAAPS / Fiocruz

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Documentário "A Saúde está entre nós"
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Documentário "A Saúde está entre nós" / Foto: Paulo Castiglione
Documentário "A Saúde está entre nós"

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