Pesquisadora fala sobre os acidentes com escorpiões no Brasil

por
Rafael Vinicius
,
08/01/2009

Intensa dor na hora da picada, arritmias cardíacas e edema pulmonar, que pode levar a vítima ao óbito mesmo com rápido atendimento, são os perigos que envolvem os acidentes envolvendo os escorpiões. A pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fiocruz, Rosany Bochner, concedeu uma entrevista ao sítio do Instituto para discutir o assunto. Rosany falou sobre os acidentes relacionados aos escorpiões, os locais de maior incidência no Brasil, os sintomas após a picada e o que fazer na hora do contato, além de como evitar o aparecimento desses animais.

Repórter: Quais são os tipos de escorpião mais comuns no Brasil?

Rosany: Destacaria quatro espécies de escorpião no Brasil, um animal que se esconde durante o dia e sai durante a noite para se alimentar. O Tityus serrulatus (Escorpião Amarelo) é o mais comum e o que mais nos preocupa. Quando se fala em escorpião no Brasil, lembra-se logo dele, devido ao fato de causar os acidentes mais graves e da sua ocorrência se concentrar na Região Sudeste. Ainda existe o Tityus stigmurus, que está mais presente no Nordeste, o Tityus bahiensis, com ocorrência no Sudeste e o Tityus cambridgei, o negro, muito encontrado na Amazônia.

Repórter: Quais são os locais propícios para o aparecimento de escorpiões?

Rosany: Na busca por presas vivas (insetos e baratas), os animais aparecem em construções abandonadas, locais que tenham lixo e cemitérios.

Repórter: Onde há a maior incidência de casos no Brasil?

Rosany: No estado de Minas Gerais, que de acordo com os últimos dados divulgados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), teve 8.848 casos, com a ocorrência de 8 óbitos no ano de 2006. Os estados de Pernambuco com 6.837 casos, Bahia com 5.995 e São Paulo com 4.576 casos aparecem em seguida como os locais mais comuns para o aparecimento do artrópode peçonhento. Vale destacar ainda que, apesar da letalidade por serpentes ser maior que a dos escorpiões, ocorreu mais óbitos envolvendo os escorpiões na região sudeste do Brasil no período de 2001 a 2006.

Repórter: O aumento das chuvas nesse período do ano contribui para o aparecimento dos escorpiões?

Rosany: Com certeza. No entorno dos rios normalmente tem muito lixo, já que as pessoas têm o costume de abandoná-los neste local, o que contribui para o alojamento dos escorpiões. Acontece que na hora em que o local inunda, o animal foge e se abriga dentro das casas. Os estudos do Projeto Escorpião, que têm o objetivo de controlar e prevenir os acidentes com escorpião no Estado do Rio de Janeiro, confirma que na época das cheias a ocorrência de acidentes envolvendo esses animais aumenta de forma contundente. A população precisa estar sempre alerta com relação a isso.

Repórter: Como evitar o aparecimento desses animais?

Rosany: Manter a casa limpa; vedar os ralos; evitar acúmulo de entulhos, materiais de construção e recicláveis, manter jardins e quintais limpos; não colocar roupas e panos de limpeza no chão; manter a grama aparada; combater a proliferação de insetos; preservar os predadores naturais de escorpiões, que são as aves de hábitos noturnos, como corujas, sapos e lagartos; e, quando anoitecer, colocar tela nas janelas.

Repórter: Qual o local do corpo em que há a maior incidência de picada?

Rosany: Geralmente em membros superiores, já que a pessoa pode sofrer a picada ao manusear lenha e materiais de construção. Em sua maioria é um encontro casual, uma vez que o escorpião pode estar escondido. Outro lugar comum é o pé, principalmente em crianças. Além disso, o simples momento de vestir uma roupa pode ser propício para uma picada, já que a vestimenta é pressionada contra o corpo. Roupas úmidas também podem atrair os artrópodes peçonhentos.

Repórter: Quais são os sintomas?

Rosany: No momento da picada a dor é intensa e pode durar até 24 horas. Os casos mais graves acontecem com crianças, que podem apresentar complicações como arritmias cardíacas e edema pulmonar. Quando o adulto é picado nem sempre existe a necessidade da soroterapia, muitas vezes o bloqueio anestésico já é o suficiente.

Repórter: Em caso de picada, o quê fazer?

Rosany: As pessoas devem procurar atendimento o mais rápido possível ou ligar para o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (0800-722-6001). Acessar o sítio do Vital Brasil, que possui os pólos de atendimento em hospitais de todo o país, também pode ser uma alternativa. É fundamental que pessoas que praticam esportes na mata tenham cuidado e façam o planejamento correto para a sua viagem, anotando o telefone do hospital mais próximo.

Repórter: Qual o procedimento correto quando se encontra um escorpião?

Rosany: Quando você o vê, o melhor a fazer é chamar pessoal especializado, uma vez que não é eficaz deixar algum produto químico no chão, pois o escorpião percebe a sua presença. A captura é a melhor forma de evitar futuros acidentes, já que os estudos com esses produtos provam que só existe resultado quando ele é aplicado em cima do animal.

Repórter: Como prevenir os acidentes?

Rosany: Neste caso, destaco como principais medidas preventivas o uso de botas, quando houver a necessidade de pisar em capins e folhas secas ou úmidas, além de não pôr as mãos em buracos e em dormentes de linhas férreas. Afastar camas e berços das paredes e manusear telhas, madeiras e lenhas com cuidado também são medidas extremamente importantes.

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