O Comitê Nacional Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, em oficina realizada no dia 22/07, no Icict, com pesquisadoras do grupo, deu início ao trabalho que fará em todas as unidades da Fundação para dar mais visibilidade às mulheres da instituição. O trabalho integra a pesquisa “Mulheres fazendo ciência – resgastes de memórias do trabalho”, cujo resultados deverão estar disponíveis no segundo semestre de 2015.
“A proposta é organizar grupos focais para debater quem são as mulheres memoráveis em atuação, ou aposentadas”, explica a coordenadora do Comitê, Elizabeth Fleury, da Fiocruz Minas. A oficina sobre a organização dos grupos focais foi ministrada pela pesquisadora americana Corinne Davis, especialista no assunto, que atua na área de Sociologia, é docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integra a American Society of Criminology (ASC)/USA. Segundo Corinne, a metodologia é uma das mais adequadas para lidar com questões sensíveis, como a discriminação ou a desigualdade, por exemplo, “porque dá voz às pessoas, permite que contem a sua experiência, valorizando justamente aquelas que muitas vezes não são ouvidas”, explica.
E esse é o objetivo do grupo liderado por Elizabeth Fleury: “Queremos captar reminiscências da memória e conversas em que as mulheres indicam outras, para que essas também possam ser entrevistadas pelas pesquisadoras”, afirma. O estudo resgatará, na linha da pró-equidade de gênero, a história de cada mulher considerada notável nas unidades, independentemente da área de atuação.
A vinda da pesquisadora Corinne Davis trouxe um avanço para a proposta dessa pesquisa a ser desenvolvida pelo Comitê, conforme afirma Elizabeth Fleury: “Ela nos deu textos de referência aos quais não teríamos acesso aqui no Brasil e nos ofereceu toda uma linha de pensamento metodológico no qual poderá se assentar esta proposta de pesquisa”, explica. A coordenadora ressalta: “essa pesquisa não é para o nosso deleite acadêmico, é uma pesquisa-ação, aplicada a situações específicas”.
Na Fiocruz, a força feminina pode ser constatada a partir dos números de junho/2014, fornecidos pela Diretoria de Recursos Humanos (Direh). A Fundação conta com 12.327 funcionários, desses 51,6% (6.359) são mulheres. Em relação aos terceirizados – 7.232 no total, 3.452 são mulheres. No Icict, por exemplo, dos 314 trabalhadores da unidade, entre servidores, estagiários e colaboradores (bolsistas e terceirizados), 180 são mulheres.
O que só reforça a importância do trabalho a ser realizado. Para a planejadora Ingrid Jann, representante do Icict no Comitê, “quando a Fiocruz assume um programa como este, a instituição dá um importante passo reconhecendo que ainda nos dias atuais existem desigualdades e, mais do que isso, neste reconhecimento estimula reflexões, debates e ações que visem a amenizar essas desigualdades”.
Em março de 2014, para comemorar o Mês da Mulher, o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça organizou o seminário “Mulheres fazendo Ciência”, que apresentou pesquisas e estatísticas desenvolvidas também pela Fiocruz para e sobre as questões relativas à mulher, como saúde, trabalho, violência, entre outras.
Em seus cinco anos de existência, o Comitê Pró-Equidade, ligado à Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional e uma esfera de assessoramento da Presidência da Fiocruz, estabeleceu várias frentes de atuação, como o mapeamento de dados dos componentes da força de trabalho da Fiocruz, e a validação da cartilha sobre assédio moral criada pela Direh, que está em fase final de ajustes e será distribuída para todas as unidades da Fiocruz no país.
Sobre a cartilha, Elizabeth Fleury afirma que traz conceitos sobre o que é assédio no trabalho, tanto o moral quanto o sexual, procura mostrar como os trabalhadores podem identificar essas situações e a quem devem recorrer.
Outra frente importante que está sendo desenvolvida são as oficinas sobre Políticas de Igualdade Racial. As duas últimas (2013 e 2014) tiveram a orientação do professor Edson Cardoso, assessor especial da ministra da Secretaria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros.
O tema, que pode parecer espinhoso para alguns, ganha cada vez mais espaço nas atividades do Comitê, e a socióloga Elizabeth Fleury vê, de forma positiva, esse crescimento: “Assessoramos a Fiocruz a pensar que tipo de política interna ela pode exercer, buscando dar visibilidade às questões raciais e às pessoas autodeclaradas negras. Poderemos fornecer à Presidência mais dados com os quais analisar, ou sobre como aqui em nossa instituição se manifesta o racismo nas relações de trabalho”, afirma.
A coordenadora explica que está sendo criado um grupo para discutir esse assunto. “Já comuniquei à Presidência da Fiocruz que estamos começando essa movimentação, que gerará um potencial de discussão e reflexão entre todos os servidores, estudantes, trabalhadores da Fundação”, revela.
A ideia do Comitê Pró-Equidade é fazer com que a instituição pense em “políticas para melhor inclusão ou melhores oportunidades para as pessoas autodeclaradas negras”, enfatiza Fleury.
Em 2010, organizado pelo Comitê Pró-Equidade, a Fiocruz realizou em Minas o I Fórum “Mulheres em situação de violência, um tema de saúde pública”, do qual participaram especialistas, gestores de políticas públicas e autoridades, profissionais das equipes que atendem às mulheres na ponta dos serviços de saúde e interessados sobre o tema. “Daí nasceu o Dicionário Feminino da Infâmia, que contou com muitos colaboradores de diversas partes do país”, explica a socióloga Elizabeth Fleury, autora do projeto e uma das organizadoras da obra de referência, ao lado da pesquisadora Stela Meneguel, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O Dicionário tem verbetes mais longos, em forma de pequenos artigos. “O propósito é científico, mas também pedagógico”, relata Elizabeth. “Procuramos fazer uma obra que abordasse várias situações e esferas de conhecimento, em um campo de análise macro”, explica a organizadora da obra.
Ainda sem data prevista para o lançamento (a Editora Fiocruz informa que sai no segundo semestre de 2014), já há grupos interessados no Dicionário. A pesquisadora revela que serão feitos seminários pedagógicos com pesquisadores locais em cinco capitais brasileiras que reúnem o maior número de colaboradores, como em Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Porto Alegre (RS) e Salvador (BA) – já há convites para que a experiência seja repetida em Recife (PE) e São Paulo (SP).
O trabalho é longo e árduo, mas as integrantes do Comitê não se intimidam. “Não há fórmula mágica para correção das desigualdades existentes, assim espero que estas sejam cada vez mais explicitadas e que, dos debates gerados, muitas ações possam ser efetivamente implementadas”, conclui Ingrid Jann.
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