É nosso papel ser pioneiro

por
Raíza Tourinho
,
08/12/2015

Em entrevista, o diretor do Icict, Umberto Trigueiros, ressalta a importância do reconhecimento do papel estratégico da comunicação nos processos de gestão


O Icict recebeu menção honrosa na primeira edição do Prêmio de Inovação na Gestão Fiocruz, promovido pela Vice-Presidência de Gestão e Desenvolvimento Institucional (VPGDI), com o projeto da Assessoria de Comunicação “O uso de Redes Sociais On-line como estratégia de comunicação organizacional” (leia mais no box). Ainda sob o impacto do prêmio, entregue no dia 8 de outubro, conversamos com o diretor do Icict, Umberto Trigueiros, sobre os processos de inovação no campo da comunicação e informação. 

Jornalista, Trigueiros é servidor da Fiocruz desde 1987 e durante este período acumulou um currículo que o autoriza a discorrer com propriedade sobre os processos de comunicação da Fundação. Dentre os diversos cargos que ocupou estão os de assessor-chefe de Comunicação Social da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES/RJ) e do Ministério da Saúde, coordenador de Comunicação Social da Fiocruz, chefe do Departamento de Comunicação em Saúde (hoje VideoSaúde Distribuidora), coordenador e editor do Portal Fiocruz, editor-executivo do Selo Fiocruz Vídeo e vice-diretor de Informação e Comunicação do Icict.

Nesta entrevista, Umberto fala sobre o prêmio, as perspectivas das redes sociais para as instituições públicas, a mudança de visão da comunicação e da informação, o papel do Icict na Fiocruz e sobre como a Academia pode estimular a inovação para a sociedade, entre outros assuntos.

Inova Icict: O projeto sobre as Redes Sociais On-line da Assessoria de Comunicação (Ascom) do Icict recebeu menção honrosa no Prêmio de Inovação na Gestão Fiocruz, evidenciando o papel estratégico da comunicação dentro da gestão. O que esse prêmio representa para o Icict?

Umberto Trigueiros - É muito relevante e expressivo que um projeto, executado do ponto de vista da comunicação, seja contemplado em um processo que avalia iniciativas de gestão. Ser reconhecido e bem avaliado, ficar colocado entre os dez primeiros dentre 71 projetos de 21 unidades da Fiocruz, é de fato único. O projeto é muito original. Trata da gestão da informação institucional em diferentes facetas, do ponto de vista da comunicação interna, da gestão, dos serviços, etc. Isso amplia nossa rede de contatos internamente e também a transparência externa, porque aumenta nossa permeabilidade com a sociedade.

Além disso, o projeto que obteve o 1º lugar no Prêmio, o Credenciamento da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano [rBLH-Br], contempla uma ação que está sediada aqui no Icict, a configuração de uma rede de informação e de capacitação para posterior certificação e credenciamento de BLHs. Isso é muito importante. É claro que a parte biomédica da rBLH-Br está ancorada no IFF [Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira], mas a informação e a comunicação são tratados por nós do Icict. E a nossa Ascom tem exercido uma militância muito profunda e expressiva no apoio a este trabalho, seja na organização de congressos, de eventos, seja na divulgação das atividades da rBLH-Br. Fico muito feliz que estejamos representados desta maneira.

Inova Icict: O programa de credenciamento visa justamente certificar a confiabilidade da informação e essa percepção destaca a proeminência do Icict dentro da Fiocruz. Qual é o lugar institucional do Icict na inovação dos processos de informação e comunicação?

Umberto Trigueiros - Essa é a nossa missão. Ainda não conseguimos ocupar inteiramente este lugar. Temos que continuar trabalhando muito. O fato de a rBLH-Br ter optado, há uns dez anos, por ter essa ‘perna’ aqui no Icict, para construir essa rede de informação (e de formação também), demonstra que o Aprigio [João Aprigio Guerra de Almeida, coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano] veio com essa visão: ancorar a Rede em uma unidade capaz de potencializar o que ele queria fazer. Não foi à toa que na hora de receber o prêmio ele destacou isso, chamou a mim e ao diretor do IFF [Carlos Maciel], para recebermos o prêmio junto com ele, reconhecendo esse nosso papel. E esse papel nos orgulha muito, porque a rBLH-Br é uma atividade do SUS [Sistema Único de Saúde] de grande importância. Não só por salvar vidas de recém-nascidos, mas também pelo incentivo ao aleitamento materno. E nós estamos contribuindo de alguma maneira para isso. Isso que é fazer SUS no nosso pedaço. Nos orgulha muito.

Inova Icict:  Apesar da presença institucional nas redes sociais on-line ter aumentado, ainda há uma visão muito receosa, pela ideia de ser um ambiente informal. Como as redes sociais podem ajudar a promover as instituições públicas e a aumentar a interlocução com a sociedade?

Umberto Trigueiros - Eu sou de uma geração que teve que aprender a conviver com isso. A geração atual nem pergunta como apareceu. Claro que, como todo instrumento, pode ser bem ou mal usado. Mas é um instrumento fantástico para capilarizar a informação, quase em tempo em real. Podemos aplicar bem a Lei de Acesso à Informação, por exemplo. Podemos ter conexão com a sociedade, instituições mais abertas, mais democráticas e mais eficazes usando essas ferramentas. Mas eu acredito que para usar bem essas ferramentas precisamos ter entendimento da coisa pública, a compreensão do que é o SUS e para que ele serve, além de uma concepção político-ideológica de um Estado aberto, a serviço do cidadão, e cada vez mais permeável.

Então, o nosso objetivo aqui é utilizá-las [as redes sociais] para facilitar a comunicação com a sociedade e prestar melhores serviços. Nós fomos pioneiros em lançar isso – aliás, fomos pioneiros porque é nosso papel ser pioneiro nessa área. Nós existimos para isso na Fundação Oswaldo Cruz. Isso tem dado certo, tem progredido – claro, tem muito caminho pela frente ainda, é preciso melhorar, capilarizar muito mais. O Prêmio é o reconhecimento de que a coisa foi bem. Afinal, estavam concorrendo projetos importantíssimos de institutos mais tradicionais que o nosso, com mais tempo de existência. Mas no momento em que lançamos este projeto, foi pioneiro e deu certo.

Inova Icict: Ainda é incipiente a percepção da comunicação como elemento estratégico. Como o senhor vê esta questão na Fiocruz desde que ingressou até agora?

Umberto Trigueiros - A Fiocruz é uma instituição de pesquisa, mas há uns 30 anos prevalecia uma visão muito fechada, centrada no trabalho de bancada, no laboratório, apesar de, no início, ter sido extremamente revolucionária. Os fundadores tinham uma visão muito futurista do País. Eles foram para dentro do Brasil, para os sertões, e entenderam a necessidade de comunicar o que estavam fazendo. Eles criaram uma revista científica para informar aos pares o que estavam realizando, registraram tudo em fotografia, ilustração científica e até em filme, no início do século XX – o que era uma coisa absolutamente pioneira. Eles tiveram esse insight.

Mas depois houve um marasmo, uma perda de densidade. O cientista não queria falar. Era a maior dificuldade pegar uma declaração de um pesquisador, porque ele achava que não iriam entender ou iriam distorcer o que ele falava, e que não tinha que prestar contas de nada. Também não era cobrado. Dos anos 1980 para cá, houve uma mudança muito grande em relação a isso. Hoje a comunicação e a informação são um campo transversal aqui dentro. Daí a história do Icict. O nosso instituto surgiu inicialmente como um centro para reunir as bibliotecas. Mas rapidamente se expandiu, foi criando outras áreas de pesquisa sobre informação, comunicação, sobre inquéritos, pesquisas de geoprocessamento, etc. Fomos reconhecidos, no começo dos anos 2000, como instituto, e depois criamos o Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde, que tem reconhecimento externo com nota 5 da Capes, e cresceu em quadro, profissionais e expertise nesse campo.

No congresso interno [da Fiocruz], tem um capítulo chamado Ciência, Saúde e Sociedade, onde estão em discussão diversos itens que tratam sobre comunicação. É um processo que está acontecendo. Ainda tem muita gente que vê a comunicação como coisa instrumental, porém cada vez menos. Na 15º Conferência Nacional de Saúde discutiremos o direito à comunicação e saúde.

Inova Icict: Fale-nos um pouco mais sobre essa discussão na conferência...

Umberto Trigueiros - Na área da saúde, já se tem uma tradição: são 15 conferências. A importância delas varia de acordo com a conjuntura, com os governos, com as correlações de forças. Com o advento do SUS, isso foi melhor organizado. Estamos vivendo uma conjuntura adversa – apesar do governo democrático e progressista – de cortes orçamentários, redução de despesas e várias ameaças ao SUS: privatização, desfinanciamento e ameaças a uma série de medidas e decisões que seriam necessárias para fazer acontecer o SUS do jeito que está na lei, como foi concebido, aplicando todos os seus princípios da universalidade, da integralidade, da assistência. Isso envolve uma série de coisas, medicamentos, tratamentos de alta complexidade, saúde da família, o papel dos conselhos, da democracia interna, etc. Enfim, uma série de questões que são desafios.

Inova Icict: Como o senhor acha que o PPGICS (Programa de Pós-graduação em Informação, Comunicação em Saúde) pode contribuir para alavancar processos de inovação na comunicação institucional para o SUS?

Umberto Trigueiros - Quando se estuda comunicação, informação e saúde, não dá para ficar circunscrito a um recorte. É preciso questionar os conceitos. O que é saúde? Saúde, para muitos autores, é uma das expressões da cidadania. O conceito ampliado da saúde significa muitas coisas... direito ao trabalho, direito a um transporte público de qualidade, direito ao saneamento, enfim, uma série de circunstâncias que são permeadas pela questão da informação e da comunicação o tempo inteiro. O nosso programa tem tentado ser um portador desse olhar, um formador de pesquisadores capazes de olhar a saúde, a comunicação e a informação dessa maneira. Há uma pluralidade de discursos, que tratam de entender o paradigma da informação e da comunicação no Brasil do ponto de vista de como está a nossa sociedade. Com esse olhar, o PPGICS será um programa com mais qualidade e com mais serviço prestado à sociedade brasileira. Independentemente de posicionamentos ideológicos, é preciso ter um olhar amplo. O olhar da ciência é um olhar amplo

Prêmio

O projeto “O uso de Redes Sociais On-line como estratégia de comunicação organizacional”, realizado pela Assessoria de Comunicação do Icict (na foto, da esquerda para a direita, Cristiane d’Avila, Renata Rezende, Graça Portela e André Bezerra), recebeu menção honrosa na primeira edição do Prêmio de Inovação na Gestão Fiocruz, por ter sido um dos dez finalistas da premiação. De acordo com a organização do prêmio, participaram da seleção 71 equipes de 21 unidades da Fundação, apresentando soluções inovadoras e relevantes para a gestão pública e a sociedade. Os projetos foram avaliados por uma comissão externa formada pelos professores Adelman Moreira Ribeiro (Petrobras); Elton Fernandes (COPPE/UFRJ) e Leonardo Justin Carap (FGV). 

O trabalho da Ascom descreve o uso das mídias sociais como parte estratégica da comunicação institucional, levando-se em consideração ferramentas como Twitter e Facebook, visando estabelecer um relacionamento com o público, e não apenas a difusão de informações e notícias. A iniciativa surgiu da necessidade de se criar uma política interna para a criação e manutenção de páginas institucionais nas redes sociais on-line, principalmente no Facebook. O projeto visa a troca de experiências e a integração das equipes que produzem conteúdo em perfis oficiais. O Icict mantém sua fanpage desde dezembro de 2012 e, no ano seguinte, iniciou seu perfil no Twitter.

Os primeiros lugares do Prêmio foram, respectivamente: Credenciamento de Bancos de Leite Humano: Inovação para Qualificação da Gestão da Atenção à Saúde de Recém-nascidos Prematuros do SUS, da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-Br); Escritório de Captação: Uma Experiência de Desenvolvimento, Implantação e Consolidação, da Casa de Oswaldo Cruz (COC); e, por fim, o trabalho Implantação da Gestão por Processos na Fiocruz: Alinhamento e Excelência Operacional, proposto pela equipe da Coordenação da Qualidade da Fiocruz (Presidência).

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